Eu,
como todo mundo, gosto de defender o que é bom pra mim. Gosto de defender os
meus amigos e minha família. Mas acima de tudo, gosto de defender o que
acredito ser correto, mesmo que isso vá de encontro ao que é melhor e conveniente
para mim e para os meus. Ou mesmo que isso não diga respeito a mim diretamente.
É o paradigma deontológico: deve-se fazer e defender o que é certo, doa a quem
doer.
O
assunto de hoje é liberdade religiosa e liberdade de expressão. E venho de novo
para criticar a anomalia ética e intelectual, que se costuma chamar de “direito
de blasfemar”. Já me pronunciei sobre isso em outra oportunidade (O DIREITO DE
BLASFEMAR, de 13 de janeiro). Na
verdade, essa anomalia baseia-se em outra, muito mais nociva: a crença de que
liberdade é sinônimo de vale-tudo.
Mas
do que esse cara tá falando? Bem, recentemente foi lançado, ou estar para ser,
um filme sobre a vida do profeta Maomé, intitulado, no original, Innocence of Muslims (Inocência dos
Muçulmanos, creio). A obra tem gerado confusões em todo o mundo islâmico, pois
os maometanos a veem, pelo seu conteúdo contundente e satírico, como um insulto
à sua crença. Se eles têm razão, não sei, mas pelo que vejo, a coisa é
escabrosa.
Como
deixei claro na outra postagem, há uma tendência em achar que criticar a
religião é algo moderno e progressista. Aquele que faz isso sente-se a lançar
luzes à humanidade, a considerá-la acossada por séculos de obscurantismo
religioso. Vide os sucessos de Deus, um
Delírio, das Fitas do Ateísmo, do
filme Zeitgeist, e de humoristas como
George Carlin e o grupo Monty Python. A religião está na berlinda nos últimos
anos, e qualquer defesa a ela ou a algo que ela encarne ferozmente (a luta
contra o aborto é um exemplo claríssimo) ou é replicado brutalmente, sem argumentação,
ou é sumariamente eliminado. Ou seja, contra a religião, e porque não dizer
contra os religiosos, tudo vale a causa. Parodiando Voltaire, o iluminista: “O
homem que me diz ‘não creia, como eu, ou serás sempre um iludido, ou um
delirante’, amanhã me dirá ‘não creia, como eu, ou serás excluído da
sociedade.” Sei que é exagero, mas em alguns meios, como o acadêmico, a coisa
vai por aí.
Quero
deixar claro, como deixei na outra postagem, que não acho que os religiosos
tenham o monopólio da bondade e da justiça, vide os crimes cometidos em nome de
Deus em toda a história. Mas também não acho que ateus, agnósticos, laicistas,
ou quaisquer outros inimigos da crença no sobrenatural o tenham, vide também os
crimes cometidos pelas revoluções Francesa, Russa e Chinesa, entre outras,
contra religiosos, pelo simples fato de serem religiosos. Acontece o mesmo no
caso do filme supracitado. Não acho que a melhor maneira de se reagir às
ofensas (e símbolos e personalidades religiosas são coisas caras a seus adeptos,
sendo portanto uma ofensa vil atacá-los gratuitamente) seja o uso da violência. Assim como não acho
que a agressão à crença alheia seja uma forma legítima de discutir a questão.
Ah, quer dizer que não posso fazer críticas a personalidades religiosas? Não é
isso. Quem argumenta dessa forma desvirtua o ponto importante da questão. O que
não se pode fazer, sob o risco de perder respaldo intelectual e argumentativo,
é ofender, xingar, atacar, por pura canalhice, o que o semelhante tem como um
valor sem medida, como suas crenças. Se eu, como católico, tenho que respeitar
umbandistas, protestantes e ateus, entre outros, estes também me devem
respeito. RESPEITO, palavra que abunda nas bocas, mas que é escassa nas
práticas. Só tendo isso bem claro se é capaz de dar sentido verdadeiro à
palavra liberdade.
PS: Para uma análise mais
aprofundada e fundamentada da questão específica do filme, estou tentando fazer
download do mesmo, pelo Ares. Após
assisti-lo, escreverei outra postagem, desta vez com conhecimento de causa e
análise dos detalhes.