quarta-feira, 19 de setembro de 2012

LIBERDADE PARA INSULTAR? O DIREITO DE BLASFEMAR 2


                Eu, como todo mundo, gosto de defender o que é bom pra mim. Gosto de defender os meus amigos e minha família. Mas acima de tudo, gosto de defender o que acredito ser correto, mesmo que isso vá de encontro ao que é melhor e conveniente para mim e para os meus. Ou mesmo que isso não diga respeito a mim diretamente. É o paradigma deontológico: deve-se fazer e defender o que é certo, doa a quem doer.
                O assunto de hoje é liberdade religiosa e liberdade de expressão. E venho de novo para criticar a anomalia ética e intelectual, que se costuma chamar de “direito de blasfemar”. Já me pronunciei sobre isso em outra oportunidade (O DIREITO DE BLASFEMAR, de 13 de janeiro).  Na verdade, essa anomalia baseia-se em outra, muito mais nociva: a crença de que liberdade é sinônimo de vale-tudo.
                Mas do que esse cara tá falando? Bem, recentemente foi lançado, ou estar para ser, um filme sobre a vida do profeta Maomé, intitulado, no original, Innocence of Muslims (Inocência dos Muçulmanos, creio). A obra tem gerado confusões em todo o mundo islâmico, pois os maometanos a veem, pelo seu conteúdo contundente e satírico, como um insulto à sua crença. Se eles têm razão, não sei, mas pelo que vejo, a coisa é escabrosa.
                Como deixei claro na outra postagem, há uma tendência em achar que criticar a religião é algo moderno e progressista. Aquele que faz isso sente-se a lançar luzes à humanidade, a considerá-la acossada por séculos de obscurantismo religioso. Vide os sucessos de Deus, um Delírio, das Fitas do Ateísmo, do filme Zeitgeist, e de humoristas como George Carlin e o grupo Monty Python. A religião está na berlinda nos últimos anos, e qualquer defesa a ela ou a algo que ela encarne ferozmente (a luta contra o aborto é um exemplo claríssimo) ou é replicado brutalmente, sem argumentação, ou é sumariamente eliminado. Ou seja, contra a religião, e porque não dizer contra os religiosos, tudo vale a causa. Parodiando Voltaire, o iluminista: “O homem que me diz ‘não creia, como eu, ou serás sempre um iludido, ou um delirante’, amanhã me dirá ‘não creia, como eu, ou serás excluído da sociedade.” Sei que é exagero, mas em alguns meios, como o acadêmico, a coisa vai por aí.  
                Quero deixar claro, como deixei na outra postagem, que não acho que os religiosos tenham o monopólio da bondade e da justiça, vide os crimes cometidos em nome de Deus em toda a história. Mas também não acho que ateus, agnósticos, laicistas, ou quaisquer outros inimigos da crença no sobrenatural o tenham, vide também os crimes cometidos pelas revoluções Francesa, Russa e Chinesa, entre outras, contra religiosos, pelo simples fato de serem religiosos. Acontece o mesmo no caso do filme supracitado. Não acho que a melhor maneira de se reagir às ofensas (e símbolos e personalidades religiosas são coisas caras a seus adeptos, sendo portanto uma ofensa vil atacá-los gratuitamente)  seja o uso da violência. Assim como não acho que a agressão à crença alheia seja uma forma legítima de discutir a questão. Ah, quer dizer que não posso fazer críticas a personalidades religiosas? Não é isso. Quem argumenta dessa forma desvirtua o ponto importante da questão. O que não se pode fazer, sob o risco de perder respaldo intelectual e argumentativo, é ofender, xingar, atacar, por pura canalhice, o que o semelhante tem como um valor sem medida, como suas crenças. Se eu, como católico, tenho que respeitar umbandistas, protestantes e ateus, entre outros, estes também me devem respeito. RESPEITO, palavra que abunda nas bocas, mas que é escassa nas práticas. Só tendo isso bem claro se é capaz de dar sentido verdadeiro à palavra liberdade.

PS: Para uma análise mais aprofundada e fundamentada da questão específica do filme, estou tentando fazer download do mesmo, pelo Ares. Após assisti-lo, escreverei outra postagem, desta vez com conhecimento de causa e análise dos detalhes.