sexta-feira, 29 de março de 2013

CQC EXPERIMENTA DO PRÓPRIO VENENO E NÃO GOSTA: CENSURA VÍDEO DE JORNALISTA

Do blog Com Texto Livre

O vídeo censurado no You Tube: clique na imagem para vê-lo no Yahoo Vídeos 
O jornalista Jorge Antonio Antonio Barros, dono do blog Repórter de Crime, encontrou-se no aeroporto de São Paulo com um dos CQCs, Rafael Cortez (ambos viajariam para o Rio), e aplicou com ele a mesma técnica que os humoristas usam com as suas vítimas.
Ligou uma câmera amadora e começou a fazer perguntas embaraçosas a ele e à equipe que o acompanhava.
O troço terminou com um dos integrantes pondo a mão na lente da câmera do repórter para impedi-lo de filmar – e Rafael Cortez, posteriormente, foi à Justiça para retirar o vídeo do YouTube.
Portanto, um CQCéte, experimentou do próprio veneno e não gostou. CQC – “Custe o que Custar”, como vocês sabem é um programa de origem argentina, no Brasil produzido pela TV Bandeirantes.
Eu sustento um debate para tentar entender se programas tipo CQC podem ser considerados jornalísticos. Eu tendo a achar que não, mas gosto de ouvir argumentos que me contrariam.
Nós gostamos do esculacho aos políticos, como uma espécie de vingança contra eles. Mas o que sobra disso, do ponto de vista do interesse público?
Nós nos divertimos do mesmo modo que se divertem os apreciadores de programas policiais quando os “apresentadores” e “repórteres” “enfrentam” os “bandidos” passando-lhes lição de moral ou humilhando-os.
Quem falou algo certeiro sobre isso foi minha filha de 16 anos. Ela disse que, nesse sentido, o programa “Pânico” é “mais digno”, pois não traveste suas algazarras e brincadeiras de “jornalismo”. O objetivo deles, declarado, é divertir por meio da esculhambação com tudo e com todos. Ponto.
Na lista da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) iniciei um debate sobre o personagem “João Buracão”, que é usado pelo jornal Extra (Rio de Janeiro) para apontar onde existem buracos na rua. O personagem ganhou tanta importância que foi parar no programa Fantástico e nas novelas na Globo (se bem que não é de se admirar, já que a autorreferência da Globo é quase doentia).
Houve quem considerasse isso aceitável em jornalismo (a maioria) e quem defendeu de modo contrário. Vou consultar os pares se posso divulgar trechos da conversa que mantivemos na lista; se não houver oposição, qualquer dia o farei – ou poderei fazê-lo sem divulgar os nomes dos que intervieram no debate. (Isto é, se ainda encontrar os e-mails.)
Mas voltemos ao caso do CQC Rafael Cortez, nas palavras do jornalista Jorge Antonio Barros, segundo ele expõe em seu blog (trechos):
«Depois de 28 anos de jornalismo, completados mês passado, estou enfrentando o pior adversário da imprensa e da cidadania: a censura imposta pelo poder econômico. A empresa Rafinha Productions entrou com um pedido para remoção no YouTube do vídeo exclusivo que fiz, em tom de irreverência, com o apresentador Rafael Cortez, um dos repórteres do CQC. O vídeo foi removido ontem do site do Google devido “à reivindicação de direitos autorais da Rafinha Productions”.
Em primeiro lugar não há qualquer violação de direitos autorais. O vídeo foi idealizado, produzido e feito por mim mesmo, entre o check in no saguão do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, e o desembarque de um voo da Webjet, no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, na tarde de terça-feira passada. Depois foi editado em meu computador pessoal e publicado na madrugada seguinte no canal “reporterdecrime” no YouTube.
No vídeo de cinco minutos, que em apenas algumas horas chegou a mais de 1.500 exibições no YouTube, entrevistei Rafael Cortez sobre amenidades até arrancar dele a declaração absurda de que a mídia é a culpada da violência no Rio. O vídeo tem ainda um dos integrantes da produção falando em tom ameaçador contra o Repórter de Crime.
Enfim, com apenas uma simples brincadeira de vídeo caseiro, descobri como é tênue o limite entre a fama e o mau humor. Só não imaginava que comportamento assim partisse de profissionais que têm na sua principal atividade aquilo que parecem detestar na intimidade: lidar com gente.»

PS: quem quiser ver o vídeo, que não se encontra mais no Youtube, é só visitar o seguinte sítio:http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/03/cqc-experimenta-do-proprio-veneno-e-nao.html 

sábado, 9 de março de 2013

A MORTE DE CHÁVEZ E A FRACA ANÁLISE DE ALGUNS

                Não é novidade pra ninguém a notícia da morte do presidente venezuelano, coronel Hugo Rafael Chávez Frias, ocorrida há quatro dias. Não deve ser novidade também a repercussão que essa notícia teve na imprensa e nas redes sociais, principalmente por parte de seus detratores. Resolvi escrever esse texto depois que presenciei isso num dos grupos de discussão do Facebook do qual participo.
                Quero dizer primeiramente que não acho nenhum tipo de crítica a quem quer que seja, ilegítima. Criticar é um direito de qualquer ser pensante. Mas considero que, assim como existe a liberdade de criticar, de não concordar com algo, existe a liberdade de replicar, de não concordar com a crítica. Principalmente quando ela vem mal fundamentada, como foi o caso. E mais ainda quando parte de pessoas que deveriam ter mais um pouco de esmero ao analisar fatos sociais. Um historiador, por exemplo. Não são poucas as vezes em que nos deparamos com gente que, tendo formação em História, se deixa levar por fracas análises feitas por amadores, gente que não tem formação na mesma área. Ao invés de ensinar a História aos outros, o que é seu ofício legítimo, se torna reprodutor de discursos que não passam nem mesmo numa análise modesta dentro desse campo do conhecimento. E eu me deparei com vultosas “pérolas”, vindas de um dos professores de História mais respeitados da minha cidade. “Pérolas” essas que mostro a seguir. Antes, porém...
                Antes, porém, gostaria somente de esclarecer que ninguém, repito NINGUÉM, está acima de questionamentos e críticas. Só acho que não se deve faltar com a verdade, nem se abster dos embasamentos da pesquisa. O senhor Chávez, como qualquer um de nós, tem defeitos, que devem ser realmente colocados e questionados. Passar disso é mentir descaradamente. E quando se trata de um historiador, é mais grave ainda. Dito isso, vamos aos exemplos:
                O meu eminente interlocutor começa dizendo, a título de crítica introdutória, e com tons irônicos, que o presidente Chávez era “amigo das FARC, dos irmãos Castro (Fidel e Raúl) e do Irã.” Para quem só lê Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho, é uma bofetada e tanto. Pra quem lê História, o buraco é mais embaixo. Como assim? Apesar de críticas que devem ser feitas aos três, a colocação merece complementações. Comecemos pela guerrilha colombiana. 1) As FARC são realmente um grupo guerrilheiro que se vincula ao narcotráfico e pratica sequestros. Como também o fazem grupos colombianos de direita, como o AUC. Sempre é bom lembrar isso. Assim como é bom lembrar o fato de que foi Hugo Chávez, e não o governo intransigente de Álvaro Uribe, quem conseguiu o ineditismo de fazer com que a guerrilha entregasse alguns reféns. Pelo visto, uma “amizade” que trouxe bons frutos. 2) Quanto à ditadura cubana, sempre se tratou de uma questão de honra da direita tupiniquim, mesmo que a República dos Castro nunca tenha nos feito nenhum mal, ao contrário dos tão adorados EUA. Aproximar-se de Cuba, uma “ditadura sanguinária”, que, incrivelmente, e apesar da discordância do canal Fox (conservadoríssimo), mantém níveis satisfatórios de atendimento hospitalar, mortalidade infantil, alfabetização e alimentação, é uma heresia. Isso para Veja e afins, não para historiadores. Falta na crítica um pouco mais de aprofundamento. 3) Quanto a ser amigo do Irã, fico sem saber o que tem isso demais. Deveria ser amigo de Israel, que mata crianças palestinas inocentes, e prende e tortura outras tantas? Ou da Arábia Saudita, em que mulheres não podem nem dirigir e professores não podem trazer a Bíblia para uma aula? Ah, já sei, é por causa da bomba (mais uma vez o vejismo). Se fosse assim, deveria-se começar o repúdio pelos EUA, que foram até hoje os únicos que fizeram atentados nucleares na História. Mas seria pedir pra ler coisas demais!
                E meu colega continua: “O governo Chávez fechou órgãos de comunicação pelo simples fato destes serem oposição”. Digno do Reinaldo ou do Olavo. Ou de estudantes do primeiro período. Na boca de um profissional da História, é uma aberração. Dizer isso é desconhecer os fatos. Senão vejamos: Será que ele sabe que redes de televisão são concessões estatais, com prazo de validade, que podem ser ou não renovadas? Será que ele sabe que a única rede de televisão que perdeu a concessão, durante todo o mandato de Chávez, foi a Rádio Caracas Televisión (RCTV)? Será que ele sabe que a razão disso foi o fato de a emissora ter participado ativamente de uma tentativa de golpe de Estado em 2002? Será que ele sabe que esse crime é punido em outras partes, como nos EUA e no Reino Unido, por exemplo, com a pena de morte? Não deve saber. Os “tratados” de História de Olavo de Carvalho não ajudam muito nesse ponto. Ele devia “zelar melhor pela sobrevivência do seu cérebro”!
                O perigo dessas coisas é que contagia o senso comum, sempre pronto a “entender” sobre tudo. Um dos amigos de meu eminente colega sai com essa pérola: “Eles mesmos (os cubanos) cultuam essas figuras (tipos como Chávez e Castro). Convivo diariamente com um cubano, e ele acha bobagem o que prega aquela blogueira que andou pelo Brasil. Eles recebem 22 dólares de salário e acham normal. As empresas que se instalam em Cuba, pagam ao governo e o governo que paga o salário de 22 dólares aos cubanos, e isso é tudo normal. Claro, não são todos... mas é um exemplo real, fiquei besta ao escutar do próprio.” Que absurdo, vejam só? O cara recebe US$ 22,00 por mês e ainda acha bom? Por que será? Deve ser porque lá uma cesta básica custa US$ 3,00. Ou porque o aluguel custa entre US$ 1,00 e US$ 2,00. Ou mesmo porque com US$ 1,00, o cubano pode pagar dois meses de eletricidade. Ou ainda porque a passagem de ônibus custa US$ 0,15. Sem falar na educação e na saúde, que são gratuitas. Números como esse não são vistos em Veja.
                E o show de absurdos não para por aí. Sempre há que se dizer que “esses caras se sustentam na boa fé do povo sofrido” (quem os fez sofrer tanto, é algo que nenhum deles ousa responder!). Sem falar naquilo que uma vez vi chamarem de reductio ad Hitlerorum, ou seja, quer fazer algo parecer ruim, perverso e asqueroso, estabeleça qualquer semelhança com Adolf Hitler. No fundo, mistura perniciosa de sofisma com baboseira, e um toque especial de leituras mal feitas. E há ainda algumas outras colocações menores, sobre as quais não vejo necessidade de me debruçar no momento. Afinal, o que eu queria dizer já foi dito, pelo menos por enquanto. Espero que essas palavras tenham alguma serventia, para quem deseja, SINCERAMENTE, conhecer melhor os assuntos em questão. Espero também, que as discordâncias apareçam, mas dessa vez mais bem fundamentadas e embasadas. Sem distorcer os fatos e sem informações incompletas.