sexta-feira, 21 de junho de 2013

ENTRE DEMOCRACIA E FASCISMO

Por Paulo Moreira Leite


O movimento de caráter semi-insurrecional que vemos no país de hoje exige uma reflexão cuidadosa.

Começou como uma luta justíssima pela redução de tarifas de ônibus.
Auxiliada pela postura irredutível das autoridades e pela brutalidade policial, esta mobilização transformou-se numa luta nacional pela democracia.
 
Se a redução da tarifa foi vitoriosa, a defesa dos direitos democráticos também deu resultado na medida em que o Estado deixou de empregar a violência como método preferencial para impor suas políticas.
 
Mas hoje a mobilização assumiu outra fisionomia.
 
Seu traços anti-democráticos acentuados. Até o MPL, entidade que havia organizado o movimento em sua primeira fase, decidiu retirar-se das mobilizações.
 
Os manifestantes combatem os partidos políticos, que são a forma mais democrática de participação no Estado.
 
Seu argumento é típico do fascismo: “povo unido não precisa de partido.”
 
Claro que precisa. Não há saída na sociedade moderna. Às vezes, uma pessoa escolhe entrar num partido. Outras vezes, é massa de manobra e nem sabe.  
 
A criação de partidos políticos é a forma democrática de uma sociedade debater e negociar interesses diferentes, que não nascem na política, como se tenta acreditar, mas da própria vida social, das classes sociais.
 
Em São Paulo, em Brasília, os protestos exibiram faixa com caráter golpista. 
 
“Chega de políticos incompetentes!!! Intervenção Militar Já!!!”
 
No mesmo movimento, militantes de esquerda, com bandeiras de esquerda, foram forçados a deixar uma passeata na porrada. Uma bandeira do movimento negro foi rasgada.
 
A baderna cumpre um papel essencial na conjuntura atual. Reforça a sensação de desordem, cria o ambiente favorável a medidas de força – tão convenientes  para quem tem precisa desgastar de qualquer maneira um bloco político que ocupa o Planalto após três eleições consecutivas.  
 
A baderna é uma provocação que procura emparedar o governo Dilma criando uma situação sem saída.
 
Se reprime, é autoritária. Se cruza os braços, é omissa.
 
Outro efeito é embaralhar a situação política do país, confundir quem fala pela maioria e quem apenas pretende representá-la.
 
É bom recordar que a maioria escolhe seu governo pelo voto, o critério mais democrático que existe.
 
Nenhum brasileiro chegou perto do paraíso e todos nós temos reivindicações legítimas que precisam de uma resposta.
 
Também sabemos das mazelas de um sistema político criado para defender a ordem vigente – e que, com muita dificuldade, através de brechas sempre estreitas, criou benefícios para a maioria.
 
Olhando para a maioria dos brasileiros, aqueles que foram excluídos da história ao longo de séculos, cabe perguntar, porém: os políticos atuais são incompetentes para quem, mascarados?
 
Para a empregada doméstica, que emancipou-se das últimas heranças da escravidão?
 
Para 40 milhões que recebem o bolsa-família?
 
Para os milhões de jovens pobres que nunca puderam entrar numa faculdade? Para os negros? Quem vive do mínimo?
 
Ou para quem vai ao mercado de trabalho e encontra um índice de desemprego invejado no resto do mundo?
 
Mascarados que arrebentam vidraças, incendeiam ônibus e invadem edifícios trabalham contra a ordem democrática, onde os partidos são legítimos, as pessoas têm direitos iguais  – e  o poder, que emana do povo, não se resolve na arruaça, pelo sangue, mas pelo voto.
 
É óbvio que a baderna, em sua fase atual, não quer objetivos claros nem reivindicações específicas. Não quer negociações, não quer o funcionamento da democracia. Quer travá-la.  
 
Enquanto não avançar pela violência direta, fará o possível para criar pedidos difusos, que não sejam possíveis de avaliar nem responder.
 
O objetivo é manter a raiva, a febre, a multidão eletrizada.
 
É delírio enxergar o que está acontecendo no país como um conflito entre direita e esquerda. É uma luta muito maior, como aprenderam todas as pessoas que vivenciaram e estudaram as trevas de uma ditadura.
 
A questão colocada é a defesa da democracia, este regime insubstituível para a criação do bem-estar social e do progresso econômico.
 
O conflito é este: democracia ou fascismo. Não há alternativa no horizonte.
 
Quem não perceber isso está condenado a travar a luta errada, com métodos errados e chegar a um desfecho errado. 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

SOBRE SOFISMAS MORAIS

Quando se diz que a democracia defende os direitos humanos está se dizendo exatamente isso: defende os direitos HUMANOS! Do rico e do pobre, do preto e do branco, da mulher e do homem, de qualquer religião, de qualquer partido, de qualquer ideologia, de qualquer caráter(!), de qualquer índole(!). Defende-se o humano na totalidade, com suas qualidades, mas também com suas imperfeições, suas luzes e suas sombras, pra usar uma analogia de um livro de Padre João Olímpio. Por melhor que seja, um homem não é um anjo. Por pior que seja, ele também não é um demônio. São humanos, simplesmente! Não há super, nem tampouco, meio humano!
Digo isso porque o cinismo mascarado de moralidade (falsa, sem dúvida) insiste em jogar na cara de quem, como eu, defende melhor tratamento aos presos, e condena excessos como pena de morte e redução da maioridade penal, a pecha de indiferentes, de inversores de valores, de cegos ideológicos. São pechas que não aceito, e que, aliás, ninguém deve aceitar! Isso não passa de uma tentativa tacanha de tentar ganhar o debate na marra, desmoralizando uma posição sem mostrar argumentos claros. É o mesmo que chamar quem é contra as cotas de racista, ou quem não quer ir pra cama com um gay de homofóbico. Jogam-se pechas, moraliza-se enviesadamente o debate, e tenta-se tornar qualquer argumento do outro morto na essência, sem valor desde o nascedouro.
Pois bem! Dizer que quem defende os direitos dos "coitadinhos sociais" (assim dessa forma irônica) é, pela lógica, indiferente ao sofrimentos das vítimas de crimes, é o mesmo que dizer que quem é contra o aborto, mesmo em caso de estupro, é indiferente ao sofrimento da mulher estuprada. Isso é falácia, é falso moralismo. É típico de quem não sabe argumentar! Fico me perguntando: será que essa gente não tem nada melhor pra dizer? Será que o que eles defendem é tão pobre de justificativas que só sobrou a eles isso? Jogar sofismas morais na cara de quem pensa diferente? Acho que o nível desse debate tão relevante pode ser melhorado, desde que as pessoas não se arroguem os detentores monopolistas da moral, e desde que usem mais o cérebro, e menos o fígado!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

ESQUERDA: UM DELÍRIO DA DIREITA


De autoria de Ângelo Felipe Castro Varela:          

           A esquerda inventou a corrupção, o politicamente correto, as modinhas intelectuais detestáveis, a estupidez política, o absolutismo opinativo, o distúrbio estatóide, a intolerância e a perseguição políticas, a censura. A esquerda é a representação do mal, da lavagem cerebral, da esterilidade mental e epistemológica, da febre ideológica (só ela é ideológica), da degenerescência da raça humana.
            A esquerda é terrorista, e só ela e culpada pelos absurdos do igualitarismo social irrealista e pela teimosa em não perceber que pobreza e uma questão de ser e de escolha, condição sorteada pela loteria da vida. Assim como os criminosos, bandidos, facínoras e malfeitores, a esquerda é a hecatombe de ideias, a impossibilidade da verdade. A esquerda é o que há de pior! A esquerda, assim como a direita, nem existe. É como essa coisa chamada sociedade, onde todo mundo obedece a regras, códigos, normas, convicções e princípios. Isso não existe. Isso é desejo e delírio metafísico, pois o que vale é a liberdade. Não há argumento maior que o indivíduo, já pronto, já acabado, já dado a priori por Deus, ou por uma explosão cósmica. A esquerda é quem vem mentindo, desde as cavernas, com essa estória de sociedade e de politicamente correto.
           A verdade está com dois, três que, ainda bem, abandonaram essa doença mental. A verdade esta com o status quo, com o arrivismo, com a minha vontade de cometer violência (ops! digo de me defender), de orar e pedir a Deus, meu conforto e meu dinheiro, minha carreira e minha jornada de trabalho flexível, meu direito e meu bom senso de obter vantagens com o quer que seja. Meu desejo de parecer sábio quando se é incoerente, de ser politicamente incorreto, de cortejar um chefe político, de praticar clientelismos e depois dizer que sou o maior defensor do que público e democrático. Pois só preciso aparentar. Aparentar é a verdade e a lei da vida. Mudo de opinião, pois nunca fui aquilo que sempre dizia. Pois andei convencendo e tento convencer o mundo inteiro. Mas a mim mesmo, nuca me convenci!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

IMPARCIALIDADE E HISTÓRIA


                Uma questão essencial que permeia o pensamento de todo e qualquer historiador, assim como de todo profissional que trabalha com ciências humanas (sociólogo, antropólogo, cientista político, economista, geógrafo, jurista) é a questão da imparcialidade. Como se posicionar diante de algo que nos diz respeito diretamente e do qual fazemos parte: o ser humano, a sociedade humana, a cultura humana. Aprende-se cedo nos bancos das faculdades, que ser imparcial é impossível para um cientista da humanidade. Como assim? Para responder corretamente a essa pergunta, é necessário explicar o que significa ser imparcial, o que significa ter imparcialidade.
                Para os positivistas do final do século XIX, como Leopold von Ranke, ser imparcial seria fundamental para o historiador, pois pra ele, “ao adotar a imparcialidade, o historiador poderia chegar a uma verdade histórica objetiva.” (http://diegoricoy.blogspot.com.br/2010/03/funcao-do-historiador-papel-do.html). Ou seja, pra ele, a História seria como uma colônia de bactéria num laboratório. Aos poucos foi se percebendo que essa “verdade” histórica é um mito. Para Georges Duby, por exemplo, “contrapondo-se com os ideais positivistas, a objetividade na História é um mito já que em qualquer narrativa histórica há uma subjetividade de quem a escreve, sendo qualquer tipo de documento “contaminado” de juízo de valores e influências de seu tempo. Já na escolha de certo objeto de estudo, o historiador emite juízo de valor, não ficando imparcial diante a seleção de seu tema de pesquisa.” (IDEM) Ou seja, a pretensão de imparcialidade já nasce condenada pela parcialidade das escolhas humanas. Um historiador, quando escreve ou dá aulas, um sociólogo, ou mesmo um juiz, não podem, ou melhor, não conseguem, se dar o luxo de serem neutros, imparciais. Isso é bobagem, é ilusão.
                Quer dizer que toda produção historiográfica, sociológica, jurídica, etc., não merece crédito? Quer dizer que todo historiador é um panfletário? Não é bem assim! É claro que existem aqueles que, por tão apaixonados, negam a factualidade de determinados assuntos. Isso não é só ser panfletário. Eu chamo isso de prostituir a História. Um professor, por mais católico que seja, não pode negar a Noite de São Bartolomeu, por exemplo; por mais marxista, não pode negar os crimes de Stalin ou de Mao Tsé-tung; por mais liberal, não pode negar que a Crise de 1929 foi contornada pelo Estado. O historiador panfletário, cafetão da História, mente, inventa uma historinha só sua, usando-a a seu bel prazer no intuito de ludibriar as mentes dos leigos ou dos ignorantes.
                Dito isso, conclui-se que o historiador não pode se dissociar de seu meio, de sua experiência individual, de suas ideias políticas, de suas visões de mundo, e mesmo assim fazer um trabalho científico, um trabalho comprometido com a verossimilhança dos fatos. Até porque, achar que um homem pode ser neutro sobre a história, sobre a humanidade, é um extremo paradoxo. O homem não é um robô, não é uma pedra. É um animal político, como diziam os gregos. Tem uma história de vida, que se insere na História de sua comunidade. É um erro achar que um historiador deva ser um homem isento de juízos de valor. Mesmo com a justificativa de fazer com que os outros busquem sua própria criticidade. Até porque ser crítico, significa tomar posição. Não se pode querer que os outros façam isso, se o próprio historiador não o faz. O historiador não pode abster os outros de sua visão, de sua opinião. Que não é a única? Com certeza! Que pode ser equivocada? Com certeza! Daí a necessidade de interferir, de não deixar passar. Dizer: “Ah, eu deixo que os outros tirem suas próprias conclusões, pensem livremente, sem minha intervenção” é se abster de ser historiador! Quem assim o faz, deveria procurar outra profissão. Se minha função é deixar os outros à própria sorte intelectual, que serventia tenho eu? Da mesma forma que é errado transformar a História num panfleto, escolhendo somente o que nos interessa, é errado também posarmos, nós historiadores, como árbitros neutros. Se assim fosse, atingiríamos um estágio que nenhum ser humano, nem o mais frio e objetivo dos juízes jamais alcançou: o estágio da neutralidade absoluta, o laissez-faire intelectual, onde mestres, livros, a política, as discussões, os debates, são desnecessários. Cada um pense e faça o que quer. O historiador não se intrometa. Só narre, e pronto! É impossível!
                Tão impossível, que qualquer pessoa que tente fazê-lo não passará da “quarta página”. O que nos faz chegar à conclusão que além de ser um equívoco filosófico, epistemológico, esse discurso da neutralidade também é um sofisma cretino. Uma desculpa barata! Todos esses pretensos imparciais, pretensos neutros, são cheios de ideias e opiniões, e as defendem convicta e fervorosamente como qualquer um de nós. O que eles abominam não é a parcialidade, mas a convicção alheia em defender uma opinião contrária à sua. É igual àquele cara que diz que direita e esquerda não existem mais, simplesmente porque tem medo de se assumir de direita, e quer passar uma imagem de não-alinhado. O pretenso neutro sofre, na verdade, de uma covardia extrema, um medo de assumir o que realmente pensa. Assumir algo, abraçar algo, impõe a quem o faz responsabilidades, pesos, que esse tipo de gente não quer aceitar, preferindo viver num mundinho próprio, inumano. Pois nada mais humano que a convicção, que a parcialidade, que a paixão. O segredo é saber dosar isso! Não ser escravo de uma doutrina, de uma corrente, de uma ideologia, não significa, de forma nenhuma, que você não siga uma. Quem tem a pretensão da neutralidade, sempre esconde algo que, um segundo ou outro (e quando eu falo de segundo, é segundo mesmo), escapa nas entrelinhas!        

sexta-feira, 29 de março de 2013

CQC EXPERIMENTA DO PRÓPRIO VENENO E NÃO GOSTA: CENSURA VÍDEO DE JORNALISTA

Do blog Com Texto Livre

O vídeo censurado no You Tube: clique na imagem para vê-lo no Yahoo Vídeos 
O jornalista Jorge Antonio Antonio Barros, dono do blog Repórter de Crime, encontrou-se no aeroporto de São Paulo com um dos CQCs, Rafael Cortez (ambos viajariam para o Rio), e aplicou com ele a mesma técnica que os humoristas usam com as suas vítimas.
Ligou uma câmera amadora e começou a fazer perguntas embaraçosas a ele e à equipe que o acompanhava.
O troço terminou com um dos integrantes pondo a mão na lente da câmera do repórter para impedi-lo de filmar – e Rafael Cortez, posteriormente, foi à Justiça para retirar o vídeo do YouTube.
Portanto, um CQCéte, experimentou do próprio veneno e não gostou. CQC – “Custe o que Custar”, como vocês sabem é um programa de origem argentina, no Brasil produzido pela TV Bandeirantes.
Eu sustento um debate para tentar entender se programas tipo CQC podem ser considerados jornalísticos. Eu tendo a achar que não, mas gosto de ouvir argumentos que me contrariam.
Nós gostamos do esculacho aos políticos, como uma espécie de vingança contra eles. Mas o que sobra disso, do ponto de vista do interesse público?
Nós nos divertimos do mesmo modo que se divertem os apreciadores de programas policiais quando os “apresentadores” e “repórteres” “enfrentam” os “bandidos” passando-lhes lição de moral ou humilhando-os.
Quem falou algo certeiro sobre isso foi minha filha de 16 anos. Ela disse que, nesse sentido, o programa “Pânico” é “mais digno”, pois não traveste suas algazarras e brincadeiras de “jornalismo”. O objetivo deles, declarado, é divertir por meio da esculhambação com tudo e com todos. Ponto.
Na lista da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) iniciei um debate sobre o personagem “João Buracão”, que é usado pelo jornal Extra (Rio de Janeiro) para apontar onde existem buracos na rua. O personagem ganhou tanta importância que foi parar no programa Fantástico e nas novelas na Globo (se bem que não é de se admirar, já que a autorreferência da Globo é quase doentia).
Houve quem considerasse isso aceitável em jornalismo (a maioria) e quem defendeu de modo contrário. Vou consultar os pares se posso divulgar trechos da conversa que mantivemos na lista; se não houver oposição, qualquer dia o farei – ou poderei fazê-lo sem divulgar os nomes dos que intervieram no debate. (Isto é, se ainda encontrar os e-mails.)
Mas voltemos ao caso do CQC Rafael Cortez, nas palavras do jornalista Jorge Antonio Barros, segundo ele expõe em seu blog (trechos):
«Depois de 28 anos de jornalismo, completados mês passado, estou enfrentando o pior adversário da imprensa e da cidadania: a censura imposta pelo poder econômico. A empresa Rafinha Productions entrou com um pedido para remoção no YouTube do vídeo exclusivo que fiz, em tom de irreverência, com o apresentador Rafael Cortez, um dos repórteres do CQC. O vídeo foi removido ontem do site do Google devido “à reivindicação de direitos autorais da Rafinha Productions”.
Em primeiro lugar não há qualquer violação de direitos autorais. O vídeo foi idealizado, produzido e feito por mim mesmo, entre o check in no saguão do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, e o desembarque de um voo da Webjet, no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, na tarde de terça-feira passada. Depois foi editado em meu computador pessoal e publicado na madrugada seguinte no canal “reporterdecrime” no YouTube.
No vídeo de cinco minutos, que em apenas algumas horas chegou a mais de 1.500 exibições no YouTube, entrevistei Rafael Cortez sobre amenidades até arrancar dele a declaração absurda de que a mídia é a culpada da violência no Rio. O vídeo tem ainda um dos integrantes da produção falando em tom ameaçador contra o Repórter de Crime.
Enfim, com apenas uma simples brincadeira de vídeo caseiro, descobri como é tênue o limite entre a fama e o mau humor. Só não imaginava que comportamento assim partisse de profissionais que têm na sua principal atividade aquilo que parecem detestar na intimidade: lidar com gente.»

PS: quem quiser ver o vídeo, que não se encontra mais no Youtube, é só visitar o seguinte sítio:http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/03/cqc-experimenta-do-proprio-veneno-e-nao.html 

sábado, 9 de março de 2013

A MORTE DE CHÁVEZ E A FRACA ANÁLISE DE ALGUNS

                Não é novidade pra ninguém a notícia da morte do presidente venezuelano, coronel Hugo Rafael Chávez Frias, ocorrida há quatro dias. Não deve ser novidade também a repercussão que essa notícia teve na imprensa e nas redes sociais, principalmente por parte de seus detratores. Resolvi escrever esse texto depois que presenciei isso num dos grupos de discussão do Facebook do qual participo.
                Quero dizer primeiramente que não acho nenhum tipo de crítica a quem quer que seja, ilegítima. Criticar é um direito de qualquer ser pensante. Mas considero que, assim como existe a liberdade de criticar, de não concordar com algo, existe a liberdade de replicar, de não concordar com a crítica. Principalmente quando ela vem mal fundamentada, como foi o caso. E mais ainda quando parte de pessoas que deveriam ter mais um pouco de esmero ao analisar fatos sociais. Um historiador, por exemplo. Não são poucas as vezes em que nos deparamos com gente que, tendo formação em História, se deixa levar por fracas análises feitas por amadores, gente que não tem formação na mesma área. Ao invés de ensinar a História aos outros, o que é seu ofício legítimo, se torna reprodutor de discursos que não passam nem mesmo numa análise modesta dentro desse campo do conhecimento. E eu me deparei com vultosas “pérolas”, vindas de um dos professores de História mais respeitados da minha cidade. “Pérolas” essas que mostro a seguir. Antes, porém...
                Antes, porém, gostaria somente de esclarecer que ninguém, repito NINGUÉM, está acima de questionamentos e críticas. Só acho que não se deve faltar com a verdade, nem se abster dos embasamentos da pesquisa. O senhor Chávez, como qualquer um de nós, tem defeitos, que devem ser realmente colocados e questionados. Passar disso é mentir descaradamente. E quando se trata de um historiador, é mais grave ainda. Dito isso, vamos aos exemplos:
                O meu eminente interlocutor começa dizendo, a título de crítica introdutória, e com tons irônicos, que o presidente Chávez era “amigo das FARC, dos irmãos Castro (Fidel e Raúl) e do Irã.” Para quem só lê Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho, é uma bofetada e tanto. Pra quem lê História, o buraco é mais embaixo. Como assim? Apesar de críticas que devem ser feitas aos três, a colocação merece complementações. Comecemos pela guerrilha colombiana. 1) As FARC são realmente um grupo guerrilheiro que se vincula ao narcotráfico e pratica sequestros. Como também o fazem grupos colombianos de direita, como o AUC. Sempre é bom lembrar isso. Assim como é bom lembrar o fato de que foi Hugo Chávez, e não o governo intransigente de Álvaro Uribe, quem conseguiu o ineditismo de fazer com que a guerrilha entregasse alguns reféns. Pelo visto, uma “amizade” que trouxe bons frutos. 2) Quanto à ditadura cubana, sempre se tratou de uma questão de honra da direita tupiniquim, mesmo que a República dos Castro nunca tenha nos feito nenhum mal, ao contrário dos tão adorados EUA. Aproximar-se de Cuba, uma “ditadura sanguinária”, que, incrivelmente, e apesar da discordância do canal Fox (conservadoríssimo), mantém níveis satisfatórios de atendimento hospitalar, mortalidade infantil, alfabetização e alimentação, é uma heresia. Isso para Veja e afins, não para historiadores. Falta na crítica um pouco mais de aprofundamento. 3) Quanto a ser amigo do Irã, fico sem saber o que tem isso demais. Deveria ser amigo de Israel, que mata crianças palestinas inocentes, e prende e tortura outras tantas? Ou da Arábia Saudita, em que mulheres não podem nem dirigir e professores não podem trazer a Bíblia para uma aula? Ah, já sei, é por causa da bomba (mais uma vez o vejismo). Se fosse assim, deveria-se começar o repúdio pelos EUA, que foram até hoje os únicos que fizeram atentados nucleares na História. Mas seria pedir pra ler coisas demais!
                E meu colega continua: “O governo Chávez fechou órgãos de comunicação pelo simples fato destes serem oposição”. Digno do Reinaldo ou do Olavo. Ou de estudantes do primeiro período. Na boca de um profissional da História, é uma aberração. Dizer isso é desconhecer os fatos. Senão vejamos: Será que ele sabe que redes de televisão são concessões estatais, com prazo de validade, que podem ser ou não renovadas? Será que ele sabe que a única rede de televisão que perdeu a concessão, durante todo o mandato de Chávez, foi a Rádio Caracas Televisión (RCTV)? Será que ele sabe que a razão disso foi o fato de a emissora ter participado ativamente de uma tentativa de golpe de Estado em 2002? Será que ele sabe que esse crime é punido em outras partes, como nos EUA e no Reino Unido, por exemplo, com a pena de morte? Não deve saber. Os “tratados” de História de Olavo de Carvalho não ajudam muito nesse ponto. Ele devia “zelar melhor pela sobrevivência do seu cérebro”!
                O perigo dessas coisas é que contagia o senso comum, sempre pronto a “entender” sobre tudo. Um dos amigos de meu eminente colega sai com essa pérola: “Eles mesmos (os cubanos) cultuam essas figuras (tipos como Chávez e Castro). Convivo diariamente com um cubano, e ele acha bobagem o que prega aquela blogueira que andou pelo Brasil. Eles recebem 22 dólares de salário e acham normal. As empresas que se instalam em Cuba, pagam ao governo e o governo que paga o salário de 22 dólares aos cubanos, e isso é tudo normal. Claro, não são todos... mas é um exemplo real, fiquei besta ao escutar do próprio.” Que absurdo, vejam só? O cara recebe US$ 22,00 por mês e ainda acha bom? Por que será? Deve ser porque lá uma cesta básica custa US$ 3,00. Ou porque o aluguel custa entre US$ 1,00 e US$ 2,00. Ou mesmo porque com US$ 1,00, o cubano pode pagar dois meses de eletricidade. Ou ainda porque a passagem de ônibus custa US$ 0,15. Sem falar na educação e na saúde, que são gratuitas. Números como esse não são vistos em Veja.
                E o show de absurdos não para por aí. Sempre há que se dizer que “esses caras se sustentam na boa fé do povo sofrido” (quem os fez sofrer tanto, é algo que nenhum deles ousa responder!). Sem falar naquilo que uma vez vi chamarem de reductio ad Hitlerorum, ou seja, quer fazer algo parecer ruim, perverso e asqueroso, estabeleça qualquer semelhança com Adolf Hitler. No fundo, mistura perniciosa de sofisma com baboseira, e um toque especial de leituras mal feitas. E há ainda algumas outras colocações menores, sobre as quais não vejo necessidade de me debruçar no momento. Afinal, o que eu queria dizer já foi dito, pelo menos por enquanto. Espero que essas palavras tenham alguma serventia, para quem deseja, SINCERAMENTE, conhecer melhor os assuntos em questão. Espero também, que as discordâncias apareçam, mas dessa vez mais bem fundamentadas e embasadas. Sem distorcer os fatos e sem informações incompletas.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

TRANSPARÊNCIA PÚBLICA

Há algum tempo participo de um grupo que discute política em minha cidade natal, Limoeiro do Norte - CE. Por algumas vezes nos reunimos pra pensar coisas importantes para nossa cidade. Uma das coisas que nos inquietou foi a falta de transparência no trato com o dinheiro público. O texto a seguir, que trata do assunto, é de autoria do meu pai, José Castro Maia de Freitas, que fazia análises políticas semanalmente numa rádio local. Foi escrito em Novembro de 1999. Mas parece que foi ontem. É sobre Limoeiro, mas vale pra qualquer cidade do interior:

                Uma das principais obrigações do administrador público é governar de forma transparente, de modo que não paire nenhuma dúvida sobre suas ações, e assim permita um melhor e mais preciso julgamento da parte dos seus governados. O grande problema que se vê hoje no relacionamento entre sociedade e governo é exatamente a ausência quase total desse requisito primordial que deveria estar presente nas ações de todos os gestores da coisa pública. As administrações públicas municipais, por estarem bem mais próximas do povo, dos cidadãos, são as que mais se ressentem desse fator e porquanto são as que mais necessitam desse elemento, fundamental em qualquer lugar do país.
                Hoje, através dos jornais, rádios, televisões e até da rede mundial de computadores (Internet), com um pouquinho de esforço, se tem, em mãos, os dados reais sobre os recursos financeiros que entram mensalmente nas prefeituras. Por outro lado, quando se trata da verdadeira aplicação desses recursos por parte dos executivos e seus secretários, a coisa se transforma em mistério. Por mais que a sociedade cobre é impossível se saber corretamente como são ou como estão sendo aplicados tais recursos. Os governantes preferem arcar com o ônus da desconfiança e da crítica velada dos cidadãos, que a cada dia mais desacreditam das suas boas intenções e dos seus bons propósitos, do que informar corretamente, e com precisão, onde está sendo gasto, tostão por tostão, o dinheiro arrecadado, negando assim ao povo um direito que lhe é assegurado pela própria Constituição Federal.
                A população entende, e até com uma certa razão, que essa atitude estranha da quase totalidade dos nossos gestores públicos, sobretudo dos prefeitos municipais, tem por finalidade uma única questão, qual seja, a de esconder gastos, despesas ou desperdícios de dinheiro, que se chegados ao conhecimento público, provocariam grandes reações contrárias a esses governantes, muitos dos quais não teriam, se fossem verdadeiramente abertas as suas “caixas pretas”, condições de continuarem com os seus mandatos.
                Há outra questão sintomática que também deixa o cidadão desconfiado. É a preocupação dos Executivos com a maioria nas Assembléias e Câmaras de Vereadores. Sabe-se que essas maiorias, tanto nos Legislativos estaduais quanto nos municipais, principalmente nos segundos, quase sempre são conseguidas fora das regras convencionais. Não gostamos da expressão, mas é comum se ouvir que elas, as maiorias, se dão pela compra de parlamentares. Por que isso? Por que e para que servem essas maiorias? Se as administrações públicas, federal, estaduais e municipais, especialmente as municipais, fossem realmente transparentes, sérias, e portanto destinadas ao verdadeiro atendimento dos reais interesses da coletividade e direcionadas ao equacionamento ou, pelo menos, à diminuição dos graves problemas sociais, não necessitariam prioritariamente dessa maioria. Na democracia existe a figura da negociação, do acordo, da barganha, que aqui não podem ser confundidos com negociata, desajuste ou transação ilegal.
                Aliás, discute-se muito hoje a formação dessas maiorias nos parlamentos, e há quem afirme que elas existem muito mais para encobrir desmandos administrativos, do que para servir ao povo, ao cidadão, à comunidade. Pelo visto, e de acordo com os resultados, diga-se de passagem, catastróficos de certos governos, passados e presentes, esta afirmação está correta.               
                A quase completa nulidade das nossas Câmaras e Assembléias, no tocante às suas prerrogativas constitucionais, é mais um atestado de que existe algo de podre nesse relacionamento Legislativo/Executivo.
                A responsabilidade que pesa sobre as casas legislativas é muito grande nestes casos, por isso os desgastes provocados pela falta de fiscalização por parte de deputados e vereadores só servem para aumentar cada vez mais a desconfiança do povo, redundando no próprio descrédito de toda classe política. O cidadão comum, com certeza ignora as leis e as normas contábeis que regem as administrações públicas, porém ele sabe quando um gestor, um prefeito, está se comportando direito com relação aos seus gastos e com a aplicação correta dos recursos. Quanto mais claro for o relacionamento entre governantes e governados, na questão do uso das verbas públicas, maior será a aceitação e o apoio dos segundos para com os primeiros, e consequentemente, menor será o risco de desvio e malversação dos recursos públicos.
                Esse princípio é muito simples e fácil de ser entendido pela população. No entanto, na prática acontece sempre o contrário. Daí a existência cada vez maior dessa onda de descrédito do povo com relação aos seus administradores. Não importa aqui se as maiores críticas são direcionadas ao Poder Executivo ou ao Legislativo, porque afinal de contas, ambos são os responsáveis pelo que ocorre de bom e de ruim numa administração. Em suma: o primeiro deveria apenas e simplesmente cumprir o que determina o segundo tendo como fundamento apenas o respeito, a harmonia e a independência.