quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

TRANSPARÊNCIA PÚBLICA

Há algum tempo participo de um grupo que discute política em minha cidade natal, Limoeiro do Norte - CE. Por algumas vezes nos reunimos pra pensar coisas importantes para nossa cidade. Uma das coisas que nos inquietou foi a falta de transparência no trato com o dinheiro público. O texto a seguir, que trata do assunto, é de autoria do meu pai, José Castro Maia de Freitas, que fazia análises políticas semanalmente numa rádio local. Foi escrito em Novembro de 1999. Mas parece que foi ontem. É sobre Limoeiro, mas vale pra qualquer cidade do interior:

                Uma das principais obrigações do administrador público é governar de forma transparente, de modo que não paire nenhuma dúvida sobre suas ações, e assim permita um melhor e mais preciso julgamento da parte dos seus governados. O grande problema que se vê hoje no relacionamento entre sociedade e governo é exatamente a ausência quase total desse requisito primordial que deveria estar presente nas ações de todos os gestores da coisa pública. As administrações públicas municipais, por estarem bem mais próximas do povo, dos cidadãos, são as que mais se ressentem desse fator e porquanto são as que mais necessitam desse elemento, fundamental em qualquer lugar do país.
                Hoje, através dos jornais, rádios, televisões e até da rede mundial de computadores (Internet), com um pouquinho de esforço, se tem, em mãos, os dados reais sobre os recursos financeiros que entram mensalmente nas prefeituras. Por outro lado, quando se trata da verdadeira aplicação desses recursos por parte dos executivos e seus secretários, a coisa se transforma em mistério. Por mais que a sociedade cobre é impossível se saber corretamente como são ou como estão sendo aplicados tais recursos. Os governantes preferem arcar com o ônus da desconfiança e da crítica velada dos cidadãos, que a cada dia mais desacreditam das suas boas intenções e dos seus bons propósitos, do que informar corretamente, e com precisão, onde está sendo gasto, tostão por tostão, o dinheiro arrecadado, negando assim ao povo um direito que lhe é assegurado pela própria Constituição Federal.
                A população entende, e até com uma certa razão, que essa atitude estranha da quase totalidade dos nossos gestores públicos, sobretudo dos prefeitos municipais, tem por finalidade uma única questão, qual seja, a de esconder gastos, despesas ou desperdícios de dinheiro, que se chegados ao conhecimento público, provocariam grandes reações contrárias a esses governantes, muitos dos quais não teriam, se fossem verdadeiramente abertas as suas “caixas pretas”, condições de continuarem com os seus mandatos.
                Há outra questão sintomática que também deixa o cidadão desconfiado. É a preocupação dos Executivos com a maioria nas Assembléias e Câmaras de Vereadores. Sabe-se que essas maiorias, tanto nos Legislativos estaduais quanto nos municipais, principalmente nos segundos, quase sempre são conseguidas fora das regras convencionais. Não gostamos da expressão, mas é comum se ouvir que elas, as maiorias, se dão pela compra de parlamentares. Por que isso? Por que e para que servem essas maiorias? Se as administrações públicas, federal, estaduais e municipais, especialmente as municipais, fossem realmente transparentes, sérias, e portanto destinadas ao verdadeiro atendimento dos reais interesses da coletividade e direcionadas ao equacionamento ou, pelo menos, à diminuição dos graves problemas sociais, não necessitariam prioritariamente dessa maioria. Na democracia existe a figura da negociação, do acordo, da barganha, que aqui não podem ser confundidos com negociata, desajuste ou transação ilegal.
                Aliás, discute-se muito hoje a formação dessas maiorias nos parlamentos, e há quem afirme que elas existem muito mais para encobrir desmandos administrativos, do que para servir ao povo, ao cidadão, à comunidade. Pelo visto, e de acordo com os resultados, diga-se de passagem, catastróficos de certos governos, passados e presentes, esta afirmação está correta.               
                A quase completa nulidade das nossas Câmaras e Assembléias, no tocante às suas prerrogativas constitucionais, é mais um atestado de que existe algo de podre nesse relacionamento Legislativo/Executivo.
                A responsabilidade que pesa sobre as casas legislativas é muito grande nestes casos, por isso os desgastes provocados pela falta de fiscalização por parte de deputados e vereadores só servem para aumentar cada vez mais a desconfiança do povo, redundando no próprio descrédito de toda classe política. O cidadão comum, com certeza ignora as leis e as normas contábeis que regem as administrações públicas, porém ele sabe quando um gestor, um prefeito, está se comportando direito com relação aos seus gastos e com a aplicação correta dos recursos. Quanto mais claro for o relacionamento entre governantes e governados, na questão do uso das verbas públicas, maior será a aceitação e o apoio dos segundos para com os primeiros, e consequentemente, menor será o risco de desvio e malversação dos recursos públicos.
                Esse princípio é muito simples e fácil de ser entendido pela população. No entanto, na prática acontece sempre o contrário. Daí a existência cada vez maior dessa onda de descrédito do povo com relação aos seus administradores. Não importa aqui se as maiores críticas são direcionadas ao Poder Executivo ou ao Legislativo, porque afinal de contas, ambos são os responsáveis pelo que ocorre de bom e de ruim numa administração. Em suma: o primeiro deveria apenas e simplesmente cumprir o que determina o segundo tendo como fundamento apenas o respeito, a harmonia e a independência.