quinta-feira, 30 de maio de 2013

SOBRE SOFISMAS MORAIS

Quando se diz que a democracia defende os direitos humanos está se dizendo exatamente isso: defende os direitos HUMANOS! Do rico e do pobre, do preto e do branco, da mulher e do homem, de qualquer religião, de qualquer partido, de qualquer ideologia, de qualquer caráter(!), de qualquer índole(!). Defende-se o humano na totalidade, com suas qualidades, mas também com suas imperfeições, suas luzes e suas sombras, pra usar uma analogia de um livro de Padre João Olímpio. Por melhor que seja, um homem não é um anjo. Por pior que seja, ele também não é um demônio. São humanos, simplesmente! Não há super, nem tampouco, meio humano!
Digo isso porque o cinismo mascarado de moralidade (falsa, sem dúvida) insiste em jogar na cara de quem, como eu, defende melhor tratamento aos presos, e condena excessos como pena de morte e redução da maioridade penal, a pecha de indiferentes, de inversores de valores, de cegos ideológicos. São pechas que não aceito, e que, aliás, ninguém deve aceitar! Isso não passa de uma tentativa tacanha de tentar ganhar o debate na marra, desmoralizando uma posição sem mostrar argumentos claros. É o mesmo que chamar quem é contra as cotas de racista, ou quem não quer ir pra cama com um gay de homofóbico. Jogam-se pechas, moraliza-se enviesadamente o debate, e tenta-se tornar qualquer argumento do outro morto na essência, sem valor desde o nascedouro.
Pois bem! Dizer que quem defende os direitos dos "coitadinhos sociais" (assim dessa forma irônica) é, pela lógica, indiferente ao sofrimentos das vítimas de crimes, é o mesmo que dizer que quem é contra o aborto, mesmo em caso de estupro, é indiferente ao sofrimento da mulher estuprada. Isso é falácia, é falso moralismo. É típico de quem não sabe argumentar! Fico me perguntando: será que essa gente não tem nada melhor pra dizer? Será que o que eles defendem é tão pobre de justificativas que só sobrou a eles isso? Jogar sofismas morais na cara de quem pensa diferente? Acho que o nível desse debate tão relevante pode ser melhorado, desde que as pessoas não se arroguem os detentores monopolistas da moral, e desde que usem mais o cérebro, e menos o fígado!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

ESQUERDA: UM DELÍRIO DA DIREITA


De autoria de Ângelo Felipe Castro Varela:          

           A esquerda inventou a corrupção, o politicamente correto, as modinhas intelectuais detestáveis, a estupidez política, o absolutismo opinativo, o distúrbio estatóide, a intolerância e a perseguição políticas, a censura. A esquerda é a representação do mal, da lavagem cerebral, da esterilidade mental e epistemológica, da febre ideológica (só ela é ideológica), da degenerescência da raça humana.
            A esquerda é terrorista, e só ela e culpada pelos absurdos do igualitarismo social irrealista e pela teimosa em não perceber que pobreza e uma questão de ser e de escolha, condição sorteada pela loteria da vida. Assim como os criminosos, bandidos, facínoras e malfeitores, a esquerda é a hecatombe de ideias, a impossibilidade da verdade. A esquerda é o que há de pior! A esquerda, assim como a direita, nem existe. É como essa coisa chamada sociedade, onde todo mundo obedece a regras, códigos, normas, convicções e princípios. Isso não existe. Isso é desejo e delírio metafísico, pois o que vale é a liberdade. Não há argumento maior que o indivíduo, já pronto, já acabado, já dado a priori por Deus, ou por uma explosão cósmica. A esquerda é quem vem mentindo, desde as cavernas, com essa estória de sociedade e de politicamente correto.
           A verdade está com dois, três que, ainda bem, abandonaram essa doença mental. A verdade esta com o status quo, com o arrivismo, com a minha vontade de cometer violência (ops! digo de me defender), de orar e pedir a Deus, meu conforto e meu dinheiro, minha carreira e minha jornada de trabalho flexível, meu direito e meu bom senso de obter vantagens com o quer que seja. Meu desejo de parecer sábio quando se é incoerente, de ser politicamente incorreto, de cortejar um chefe político, de praticar clientelismos e depois dizer que sou o maior defensor do que público e democrático. Pois só preciso aparentar. Aparentar é a verdade e a lei da vida. Mudo de opinião, pois nunca fui aquilo que sempre dizia. Pois andei convencendo e tento convencer o mundo inteiro. Mas a mim mesmo, nuca me convenci!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

IMPARCIALIDADE E HISTÓRIA


                Uma questão essencial que permeia o pensamento de todo e qualquer historiador, assim como de todo profissional que trabalha com ciências humanas (sociólogo, antropólogo, cientista político, economista, geógrafo, jurista) é a questão da imparcialidade. Como se posicionar diante de algo que nos diz respeito diretamente e do qual fazemos parte: o ser humano, a sociedade humana, a cultura humana. Aprende-se cedo nos bancos das faculdades, que ser imparcial é impossível para um cientista da humanidade. Como assim? Para responder corretamente a essa pergunta, é necessário explicar o que significa ser imparcial, o que significa ter imparcialidade.
                Para os positivistas do final do século XIX, como Leopold von Ranke, ser imparcial seria fundamental para o historiador, pois pra ele, “ao adotar a imparcialidade, o historiador poderia chegar a uma verdade histórica objetiva.” (http://diegoricoy.blogspot.com.br/2010/03/funcao-do-historiador-papel-do.html). Ou seja, pra ele, a História seria como uma colônia de bactéria num laboratório. Aos poucos foi se percebendo que essa “verdade” histórica é um mito. Para Georges Duby, por exemplo, “contrapondo-se com os ideais positivistas, a objetividade na História é um mito já que em qualquer narrativa histórica há uma subjetividade de quem a escreve, sendo qualquer tipo de documento “contaminado” de juízo de valores e influências de seu tempo. Já na escolha de certo objeto de estudo, o historiador emite juízo de valor, não ficando imparcial diante a seleção de seu tema de pesquisa.” (IDEM) Ou seja, a pretensão de imparcialidade já nasce condenada pela parcialidade das escolhas humanas. Um historiador, quando escreve ou dá aulas, um sociólogo, ou mesmo um juiz, não podem, ou melhor, não conseguem, se dar o luxo de serem neutros, imparciais. Isso é bobagem, é ilusão.
                Quer dizer que toda produção historiográfica, sociológica, jurídica, etc., não merece crédito? Quer dizer que todo historiador é um panfletário? Não é bem assim! É claro que existem aqueles que, por tão apaixonados, negam a factualidade de determinados assuntos. Isso não é só ser panfletário. Eu chamo isso de prostituir a História. Um professor, por mais católico que seja, não pode negar a Noite de São Bartolomeu, por exemplo; por mais marxista, não pode negar os crimes de Stalin ou de Mao Tsé-tung; por mais liberal, não pode negar que a Crise de 1929 foi contornada pelo Estado. O historiador panfletário, cafetão da História, mente, inventa uma historinha só sua, usando-a a seu bel prazer no intuito de ludibriar as mentes dos leigos ou dos ignorantes.
                Dito isso, conclui-se que o historiador não pode se dissociar de seu meio, de sua experiência individual, de suas ideias políticas, de suas visões de mundo, e mesmo assim fazer um trabalho científico, um trabalho comprometido com a verossimilhança dos fatos. Até porque, achar que um homem pode ser neutro sobre a história, sobre a humanidade, é um extremo paradoxo. O homem não é um robô, não é uma pedra. É um animal político, como diziam os gregos. Tem uma história de vida, que se insere na História de sua comunidade. É um erro achar que um historiador deva ser um homem isento de juízos de valor. Mesmo com a justificativa de fazer com que os outros busquem sua própria criticidade. Até porque ser crítico, significa tomar posição. Não se pode querer que os outros façam isso, se o próprio historiador não o faz. O historiador não pode abster os outros de sua visão, de sua opinião. Que não é a única? Com certeza! Que pode ser equivocada? Com certeza! Daí a necessidade de interferir, de não deixar passar. Dizer: “Ah, eu deixo que os outros tirem suas próprias conclusões, pensem livremente, sem minha intervenção” é se abster de ser historiador! Quem assim o faz, deveria procurar outra profissão. Se minha função é deixar os outros à própria sorte intelectual, que serventia tenho eu? Da mesma forma que é errado transformar a História num panfleto, escolhendo somente o que nos interessa, é errado também posarmos, nós historiadores, como árbitros neutros. Se assim fosse, atingiríamos um estágio que nenhum ser humano, nem o mais frio e objetivo dos juízes jamais alcançou: o estágio da neutralidade absoluta, o laissez-faire intelectual, onde mestres, livros, a política, as discussões, os debates, são desnecessários. Cada um pense e faça o que quer. O historiador não se intrometa. Só narre, e pronto! É impossível!
                Tão impossível, que qualquer pessoa que tente fazê-lo não passará da “quarta página”. O que nos faz chegar à conclusão que além de ser um equívoco filosófico, epistemológico, esse discurso da neutralidade também é um sofisma cretino. Uma desculpa barata! Todos esses pretensos imparciais, pretensos neutros, são cheios de ideias e opiniões, e as defendem convicta e fervorosamente como qualquer um de nós. O que eles abominam não é a parcialidade, mas a convicção alheia em defender uma opinião contrária à sua. É igual àquele cara que diz que direita e esquerda não existem mais, simplesmente porque tem medo de se assumir de direita, e quer passar uma imagem de não-alinhado. O pretenso neutro sofre, na verdade, de uma covardia extrema, um medo de assumir o que realmente pensa. Assumir algo, abraçar algo, impõe a quem o faz responsabilidades, pesos, que esse tipo de gente não quer aceitar, preferindo viver num mundinho próprio, inumano. Pois nada mais humano que a convicção, que a parcialidade, que a paixão. O segredo é saber dosar isso! Não ser escravo de uma doutrina, de uma corrente, de uma ideologia, não significa, de forma nenhuma, que você não siga uma. Quem tem a pretensão da neutralidade, sempre esconde algo que, um segundo ou outro (e quando eu falo de segundo, é segundo mesmo), escapa nas entrelinhas!