Alguém
aí deve se lembrar de Marco Antônio Villa. Já escrevi um post sobre ele (A FALTA DE PERSPECTIVA DA DIREITA, de 11 de janeiro
último), que mostra a sua fraqueza intelectual e o seu partidarismo
panfletário. Eis que procurando na rede, encontrei outra pérola do ilustre
historiador. O tema agora é a resistência armada à Ditadura Militar, assunto
que tratei em minha primeira postagem (GUERRILHA: A VIOLÊNCIA COMO UM MAL
NECESSÁRIO, de 18 de dezembro de 2011).
Apesar
de alguns poucos (bem poucos mesmo) trechos lúcidos, o texto (http://hadrielf.blogspot.com.br/2011/11/luta-armada-contra-ditadura-por-marco.html) é mal fundamentado do início ao
fim. Vou expor aqui seus principais erros (em negrito) e comentá-los um por um:
·
“Argumentam que
não havia outro meio de resistir à ditadura, a não ser pela força. Mais um
grave equívoco: muitos dos grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados
logo depois, quando ainda havia espaço democrático (basta ver a ampla atividade
cultural de 1964-1968). (...) Quem contribuiu mais para a restauração da
democracia: o articulador de um ato terrorista ou o deputado federal emedebista
Lisâneas Maciel, defensor dos direitos humanos, que acabou sendo cassado pelo
regime militar em 1976? A ação do MDB, especialmente dos parlamentares da
"ala autêntica", precisa ser relembrada. Não foi nada fácil ser
oposição nas eleições na década de 1970.” Não nego o papel dos outros tipos
de resistência, como as do MDB, dos artistas, dos intelectuais e de alguns
setores da imprensa. É o professor Villa quem pretende negar a legitimidade de
quem pegou em armas. É fácil dizer, analisando a partir do presente, que deu
errado. Mas na época não havia, para muita gente, outra saída, como já
expliquei em meu primeiro post. Para
alguns era melhor morrer do que se calar, ser cassado ou se exilar. E esse
negócio de “espaço democrático” entre 1964 e 1968 é uma indesculpável
desonestidade intelectual. Que o digam os parlamentares cassados e os presos
torturados nesse período.
·
“Ou seja, a
opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no
sistema político e a simpatia pelo foquismo guevarista antecedem o AI-5
(dezembro de 1968), quando, de fato, houve o fechamento do regime.” Já
deixei claro: se aqueles que pegaram em armas tinham desprezo pela luta
política, porque aderiram a ela após o fim da Ditadura? A verdade é que o que
levou a esquerda às armas foi o seu alijamento (cassação do PCB em 1947) do
processo político legal e a constatação de que na Ditadura, este processo
sequer existia (fazer oposição de verdade, significava perda de mandato).
·
“O terrorismo
desses pequenos grupos deu munição (sem trocadilho) para o terrorismo de Estado
e acabou usado pela extrema-direita como pretexto para justificar o
injustificável: a barbárie repressiva. (...) Mais: transformam a discussão
política em questão pessoal, como se a discordância fosse uma espécie de
desconsideração dos sofrimentos da prisão. Não há relação entre uma coisa e
outra: criticar a luta armada não legitima o terrorismo de Estado.” Aqui
Villa faz duas constatações, meio contraditórias entre si. Primeiro, e de forma
implícita, ele joga a culpa pelo endurecimento do regime na esquerda radical,
aquela que pegou em armas, num argumento um tanto sórdido. Depois, e para
tentar esconder que defende abertamente a Ditadura, ele desdiz a primeira
premissa. Agora, não existe mais relação entre luta armada e terrorismo de
Estado.
·
“Os militantes
dos grupos de luta armada construíram um discurso eficaz. Quem questiona é
tachado de adepto da ditadura. Assim, ficam protegidos de qualquer crítica e
evitam o que tanto temem: o debate, a divergência, a pluralidade, enfim, a
democracia.” Quem construiu um discurso desse naipe, na verdade, foi o
próprio Regime Militar. Todo aquele que era contra a Ditadura era comunista,
inclusive Ulysses Guimarães, dom Helder Câmara e Fernando Henrique Cardoso.
Ademais, a esquerda não teme o debate e muito menos a democracia. Ela quer que
sua versão, deturpada por anos de censura e por uma miríade de adjetivos
pejorativos referentes aos seus membros (terrorista, bandido, assassino), seja
também posta para a opinião pública. E finalmente, quanto a ser adepto da
Ditadura, engraçado isso partir do professor Villa. Reitero o conselho para que
leiam a resposta de Luís Nassif à fala de defesa da Ditadura do professor
Villa: http://blogln.ning.com/forum/topics/marco-antonio-villa-e-a. O artigo sem “correções” pode ser
encontrado em http://danilomarcolin.blogspot.com.br/2009/03/ditadura-brasileira-por-marco-antonio.html.
Leiam e tirem as próprias
conclusões do que estou dizendo.
·
“Um bom caminho
para o país seria a abertura dos arquivos do regime militar. Dessa forma, tanto
a ação contrária ao regime como a dos "defensores da ordem" poderiam
ser estudadas, debatidas e analisadas. Parece, porém, que o governo não quer.
Optou por uma espécie de "cala-boca" financeiro. (...) Por que o
governo teme a abertura dos arquivos? Abrir os arquivos não significa revanchismo
ou coisa que o valha. O desinteresse do governo pelo tema é tão grande que nem
sequer sabe onde estão os arquivos das Forças Armadas e dos órgãos civis de
repressão. Mantê-los fechados só aumenta os boatos e as versões fantasiosas.”
O governo não teme nada disso. Uma acusação dessas chega a ser ridícula, afinal
é ele quem está promovendo a abertura dos arquivos, através da Comissão da
Verdade. Ele quer saber onde estão esses arquivos, que os ex-agentes da
repressão mantêm longe das vistas da opinião pública. Quem teme a abertura
deles, e deixa isso bem claro, é a direita. Vide as últimas postagens do
Reinaldo Azevedo e a inquietação dos reaças do Ternuma. O professor só acerta,
felizmente, quando diz que “abrir os arquivos não significa revanchismo”.
Afinal, e eu concordo plenamente, essa é a melhor forma de se evitar “os boatos
e as versões fantasiosas”. É um fato que os torturadores e seus rábulas da
mídia vão ter que aceitar e engolir.
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