sábado, 24 de março de 2012

MAIS UMA DE MARCO ANTÔNIO VILLA


            Alguém aí deve se lembrar de Marco Antônio Villa. Já escrevi um post sobre ele (A FALTA DE PERSPECTIVA DA DIREITA, de 11 de janeiro último), que mostra a sua fraqueza intelectual e o seu partidarismo panfletário. Eis que procurando na rede, encontrei outra pérola do ilustre historiador. O tema agora é a resistência armada à Ditadura Militar, assunto que tratei em minha primeira postagem (GUERRILHA: A VIOLÊNCIA COMO UM MAL NECESSÁRIO, de 18 de dezembro de 2011).
            Apesar de alguns poucos (bem poucos mesmo) trechos lúcidos, o texto (http://hadrielf.blogspot.com.br/2011/11/luta-armada-contra-ditadura-por-marco.html) é mal fundamentado do início ao fim. Vou expor aqui seus principais erros (em negrito) e comentá-los um por um:
·         Argumentam que não havia outro meio de resistir à ditadura, a não ser pela força. Mais um grave equívoco: muitos dos grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados logo depois, quando ainda havia espaço democrático (basta ver a ampla atividade cultural de 1964-1968). (...) Quem contribuiu mais para a restauração da democracia: o articulador de um ato terrorista ou o deputado federal emedebista Lisâneas Maciel, defensor dos direitos humanos, que acabou sendo cassado pelo regime militar em 1976? A ação do MDB, especialmente dos parlamentares da "ala autêntica", precisa ser relembrada. Não foi nada fácil ser oposição nas eleições na década de 1970.” Não nego o papel dos outros tipos de resistência, como as do MDB, dos artistas, dos intelectuais e de alguns setores da imprensa. É o professor Villa quem pretende negar a legitimidade de quem pegou em armas. É fácil dizer, analisando a partir do presente, que deu errado. Mas na época não havia, para muita gente, outra saída, como já expliquei em meu primeiro post. Para alguns era melhor morrer do que se calar, ser cassado ou se exilar. E esse negócio de “espaço democrático” entre 1964 e 1968 é uma indesculpável desonestidade intelectual. Que o digam os parlamentares cassados e os presos torturados nesse período.
·         Ou seja, a opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no sistema político e a simpatia pelo foquismo guevarista antecedem o AI-5 (dezembro de 1968), quando, de fato, houve o fechamento do regime.” Já deixei claro: se aqueles que pegaram em armas tinham desprezo pela luta política, porque aderiram a ela após o fim da Ditadura? A verdade é que o que levou a esquerda às armas foi o seu alijamento (cassação do PCB em 1947) do processo político legal e a constatação de que na Ditadura, este processo sequer existia (fazer oposição de verdade, significava perda de mandato).
·         O terrorismo desses pequenos grupos deu munição (sem trocadilho) para o terrorismo de Estado e acabou usado pela extrema-direita como pretexto para justificar o injustificável: a barbárie repressiva. (...) Mais: transformam a discussão política em questão pessoal, como se a discordância fosse uma espécie de desconsideração dos sofrimentos da prisão. Não há relação entre uma coisa e outra: criticar a luta armada não legitima o terrorismo de Estado.” Aqui Villa faz duas constatações, meio contraditórias entre si. Primeiro, e de forma implícita, ele joga a culpa pelo endurecimento do regime na esquerda radical, aquela que pegou em armas, num argumento um tanto sórdido. Depois, e para tentar esconder que defende abertamente a Ditadura, ele desdiz a primeira premissa. Agora, não existe mais relação entre luta armada e terrorismo de Estado.
·         Os militantes dos grupos de luta armada construíram um discurso eficaz. Quem questiona é tachado de adepto da ditadura. Assim, ficam protegidos de qualquer crítica e evitam o que tanto temem: o debate, a divergência, a pluralidade, enfim, a democracia.” Quem construiu um discurso desse naipe, na verdade, foi o próprio Regime Militar. Todo aquele que era contra a Ditadura era comunista, inclusive Ulysses Guimarães, dom Helder Câmara e Fernando Henrique Cardoso. Ademais, a esquerda não teme o debate e muito menos a democracia. Ela quer que sua versão, deturpada por anos de censura e por uma miríade de adjetivos pejorativos referentes aos seus membros (terrorista, bandido, assassino), seja também posta para a opinião pública. E finalmente, quanto a ser adepto da Ditadura, engraçado isso partir do professor Villa. Reitero o conselho para que leiam a resposta de Luís Nassif à fala de defesa da Ditadura do professor Villa: http://blogln.ning.com/forum/topics/marco-antonio-villa-e-a. O artigo sem “correções” pode ser encontrado em http://danilomarcolin.blogspot.com.br/2009/03/ditadura-brasileira-por-marco-antonio.html. Leiam e tirem as próprias conclusões do que estou dizendo.
·         Um bom caminho para o país seria a abertura dos arquivos do regime militar. Dessa forma, tanto a ação contrária ao regime como a dos "defensores da ordem" poderiam ser estudadas, debatidas e analisadas. Parece, porém, que o governo não quer. Optou por uma espécie de "cala-boca" financeiro. (...) Por que o governo teme a abertura dos arquivos? Abrir os arquivos não significa revanchismo ou coisa que o valha. O desinteresse do governo pelo tema é tão grande que nem sequer sabe onde estão os arquivos das Forças Armadas e dos órgãos civis de repressão. Mantê-los fechados só aumenta os boatos e as versões fantasiosas.” O governo não teme nada disso. Uma acusação dessas chega a ser ridícula, afinal é ele quem está promovendo a abertura dos arquivos, através da Comissão da Verdade. Ele quer saber onde estão esses arquivos, que os ex-agentes da repressão mantêm longe das vistas da opinião pública. Quem teme a abertura deles, e deixa isso bem claro, é a direita. Vide as últimas postagens do Reinaldo Azevedo e a inquietação dos reaças do Ternuma. O professor só acerta, felizmente, quando diz que “abrir os arquivos não significa revanchismo”. Afinal, e eu concordo plenamente, essa é a melhor forma de se evitar “os boatos e as versões fantasiosas”. É um fato que os torturadores e seus rábulas da mídia vão ter que aceitar e engolir.

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