“...os homens preferiram as trevas ao invés da
luz porque suas obras eram más. Todo aquele que pratica o mal odeia a luz e se
mantém longe dela, pois tem medo que suas obras sejam expostas.”
Evangelho segundo São João 3, 19-20.
O
Brasil tem sua história moldada pelo autoritarismo. Desde 1500, quando nos
tornamos colônia de uma das monarquias mais fechadas da Europa, passando pelo
absolutista Pedro I, pelo escravocrata Pedro II, pelos desmandos de Deodoro e
Floriano, pelos “estados de sítio” da República Velha, pelo Estado Novo, e culminando
com a Ditadura Militar de 64, a força e a tirania foram se tornando parte
intrínseca da mentalidade política nacional. Os últimos 25 anos, com o Brasil
regido por uma Constituição e com eleições livres e diretas pra presidente,
representam expressivamente uma guinada importante em busca de uma nova
realidade política, com liberdade e democracia permanentes.
Para
tornar real essa permanência, no entanto, são necessárias duas coisas: memória
e vigilância. Grande exemplo do bom uso das duas coisas são os alemães. Depois
de uma história marcada pelo autoritarismo dos kaisers, de Bismarck e, por fim, do nazismo de Hitler, resolveram
pôr tudo em pratos limpos. Hoje a Alemanha é uma democracia sólida, que não
permite, em nome do respeito à memória, nem manifestações de nacionalismo
xenófobo e nem o revisionismo fajuto da sua história, como no caso do
Holocausto.
No
Brasil, essa busca pela memória encontra enormes entraves. Sob o pretexto de
evitar ideologização do debate sobre a Ditadura Militar, a direita, tanto os
apoiadores explícitos quanto os pretensos contrários ao referido regime, cerram
fileiras contra a Comissão da Verdade. Argumentam da seguinte forma: “E a Lei da Anistia? Se for pra punir vai
ter que punir os dois lados.” Mas não se trata necessariamente de punir, o que,
aliás, não seria tão ruim. Se trata de mostrar ao país sua história, sem
equívocos ou discursos falsificados. E nesse ponto, a esquerda nada tem a
temer, visto que todos os assim chamados “terroristas” sempre estiveram aí
dando a cara à tapa. Como disse uma vez Franklin Martins: “Eu conto pros meus
filhos o que eu fiz na ditadura. Os sequestros e tudo o mais. Mas será que quem
torturou no pau-de-arara faz isso? Claro que não. Ele continua no porão.” São
esses caras que temem a verdade. São eles que continuam dizendo que os governos
militares reguardaram a democracia, que não houveram torturas, que os presos se
auto-mutilavam e cometiam suicídio. E a imprensa é parte integrante desse jogo
de mentiras. Jonalistas pseudo-democratas, aqueles mesmos que apoiaram o golpe
em Honduras em 2009, defendem torturadores usando o aberrativo argumento de
defender a anistia, colocando mais uma vez o legalismo, quando lhes interessa,
acima da justiça e da verdade.
Democratas de verdade não devem
aceitar a tentativa asquerosa de revisionismo por parte de grupos como o Ternuma,
já citado por mim na primeira postagem deste blog (GUERRILHA: A VIOLÊNCIA COMO UM MAL NECESSÁRIO, 18 de dezembro
de 2011). Já existe até um livro, chamado Orvil (livro, ao contrário), que
expõe, com detalhismo cansativo, a nova versão da história, na qual não
existiram torturas, o governo militar era democrático e os comunistas
(englobam-se nesse conceito qualquer membro ou simpatizante da esquerda) são os
vilões e culpados por todas as desgraças. Para quem tiver saco para lê-lo, e
olhe que eu o fiz de cabo a rabo, e quiser conferir o que estou dizendo,
pode-se fazer o download em PDF, em http://www.averdadesufocada.com/index.php?option=com_content&task=view&id=737&Itemid=78.
O
povo brasileiro tem o direito de não ser ludibriado por tamanha farsa. Se não
temos coragem de pôr torturadores e assassinos na cadeia, como foi feito com
Videla, Pinochet, Milosevic, Eichmann, Goering et caterva, devemos pelo menos respeitar nosso passado e as vítimas
dos bandidos da ditadura. É a verdade, que nos liberta dos fantasmas do
passado, para que não voltem a nos assombrar.
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