Uma
das mais propagadas cretinices intelectuais da atualidade é achar que qualquer
pessoa que critique o Estado de Israel é anti-semita. É como dizer que quem
critica o governo cubano é antilatino ou que quem critica qualquer ditadura
africana possui preconceito contra negros. Na verdade, o que esse tipo de
discurso quer é justificar subrepticiamente qualquer barbaridade cometida pelo
Estado judeu (que é o que ele é de fato), tornando sem valor qualquer crítica,
visto partirem de fontes baseadas no preconceito. Fontes essas, portanto, sem
fundamento analítico.
Quando
se critica Israel, pelo menos boa parte dos críticos que eu conheço, não se
critica o povo judeu como um todo, pois isso é uma generalização burra. Quem
faz isso é um verdadeiro cretino, um vigarista. Não se critica, tampouco, a
existência em si desse Estado. Podemos resumir a crítica sob dois aspectos:
critica-se o caráter judeu, portanto, confessional, ou pelo menos,
etnocêntrico, do Estado, entendendendo o laicismo e a convivência pacífica
entre os diferentes como a expressão político-social mais adequada à
contemporaneidade; e critica-se o fato de que a defesa do direito a uma terra
para o povo judeu deva conflituar-se com
o mesmo direito para o povo palestino. Dizer que isso é anti-semitismo é
associar, necessariamente, a violência, o etnocentrismo e outras mazelas ao
povo judeu, e isso é que é uma verdadeira falta de respeito. Quem faz isso
também é cretino e vigarista.
Digo
isso porque nesses dias está ocorrendo um curso, promovido pelo Sindicato dos
Jornalistas de São Paulo, intitulado: “A Questão Palestina e o Conflito no
Oriente Médio”. O mais reacionário dos jornalistas tupiniquins, Reinaldo
Azevedo, sempre ele, não poderia deixar de dar sua tão atoleimada opinião. Para
ele, o curso nada mais é do que um evento militante, que tem por objetivo
produzir lavagem cerebral na mente de iniciantes do jornalismo, doutrinando-os
para que eles passem a defender, em sua carreira jornalística, a destruição do
Estado judeu (ele mesmo o chama assim). Cretinice pura! O curso é militante
sim, só que milita por uma visão mais abrangente, contrapontual ao discurso de
demonização dos palestinos e de indiferença para com a sua causa. Afinal, quem
não tem Estado são os palestinos, e Israel é um dos grandes responsáveis por
isso.
Um
ponto muito curioso em todo este cenário é que todos os dias setores da mídia
fazem apologia a Israel, tido como uma ilha de democracia em meio a várias
ditaduras, que além do mais patrocinam terroristas. Reinaldo chega inclusive a
dizer, cinicamente, que Israel é o país onde os palestinos possuem mais dignidade
e direitos democráticos. Posso usar vários exemplos para mostrar que isso é uma
mentira deslavada. Colhi esse no sítio de notícias do portal Terra. É meio
grande, mas é bem esclarecedor:
“As prisões de Israel abrigam mais de 300 palestinos detidos
de forma arbitrária, que sofrem de forma reiterada diversos tipos de abuso,
denunciou nesta terça-feira o relator especial das Nações Unidas sobre a
Situação dos Direitos Humanos nos Territórios Palestinos Ocupados, Richard
Falk.
"O
governo de Israel o classifica como ''prisões administrativas'', mas é mais
honesto chamá-las de prisões sem acusações ou, diretamente, prisões
arbitrárias", afirmou Falk em comunicado.
"Fui
informado de fontes críveis que atualmente há em prisões israelenses cerca de
300 palestinos sem acusações. Pedi informações de cada uma dessas pessoas e
pretendo fazer um acompanhamento de cada caso e tratar o tema na sessão do
Conselho de Direitos Humanos em junho de 2012", acrescentou.
Estima-se
que há cerca de 4,4 mil palestinos nas prisões israelenses.
Falk
destacou, além disso, que vários especialistas em prisões lhe informaram que os
palestinos são vítimas de abusos físicos, verbais e psicológicos; sofrem falta
de acesso a tratamento médico adequado; são sujeitos a confinamento solitário
por períodos extensos; vivem em celas superlotadas e precárias; e não podem
receber visitas de seus familiares.
"Estou
consternado porque, embora essas acusações se repitam há anos, não houve
reformas ou mudanças a respeito", assinalou Falk, que pediu uma ação
urgente. "A comunidade internacional deveria dar maior prioridade à
constante violação dos direitos dos prisioneiros palestinos".”
Outro ponto interessante é a questão da
isenção. Tio Rei fala que os ministrantes do curso não são isentos. Bom, mas
quem é isento nesse assunto? Por acaso, ele o é? No seu devaneio, ele chega a
fazer um brilhante questionamento: o Sindicato abriria um curso para ouvir a
outra versão? Até parece que o negócio é sério, como diz minha mãe. Pra quem já
participou de fóruns enaltecedores de Israel, como o Momento no Oriente Médio,
evento comemorativo dos 63 anos de criação do Estado judeu (vide PS2, no fim do
texto), o questionamento vale pra ele também. Por que ele não promove algo do
tipo no seu blog, já que ele é tão a
favor de se analisar as várias versões de um mesmo fato? Que cínico! Defensor
intransigente de tudo o que Israel faz, é mais fácil ele publicar um post no dia 22 de julho, comemorando os
66 anos do atentado ao hotel King David, em Jerusalém, episódio marcante da
luta que culminou com a criação de Israel, como Benjamin Netanyahu,
primeiro-ministro do país, fez em 2006, do que realizar algo desse tipo.
E
ele ainda reclama o fato de o Sindicato abraçar uma causa, coisa própria da
essência de qualquer organização desse tipo. Afinal, ele mesmo não abraça as
deles com tanto afinco. E que afinco! Ele não aceita (não consegue, não faz
parte da sua natureza) a existência de algo contrário ao que ele prega. Se
dependesse dele, esse tipo de coisa nem existiria. Se dependesse dele, o
governo israelense (talvez o responsável “pelo simples salário pago/pelo
secreto coração deles” (vide PS3)) estaria livre para agir contra quem
quisesse, sem que a opinião pública pudesse conhecer a verdade e se intrometer
no assunto. A pecha de anti-semita serviria para coroar pejorativamente os que
insistissem no negócio, desmoralizando-os e aos seus argumentos.
PS: Devemos rejeitar veementemente essa
pecha de anti-semita. Atacar o Estado, reitero, não significa de maneira nehuma
atacar o povo judeu. Muitos deles mesmos são vítimas da arbitrariedade do
governo. A nossa luta é por um governo mais aberto e que entenda que outros
povos também possuem direitos. Devemos dizer, com todo respeito: “Anti-semita é
a vovozinha”.
PS2: Quando do post do Reinaldo falando do evento “Momento no Oriente Médio”, um
dos comentários me chamou atenção. São palavras preconceituosas, que foram
aceitas pelo dono do blog:
bpistelli
16/05/2011 às 16:41
O estado israelense, o único sem
maioria árabe foi criado e a cabeça dos fundadores, progressistas foi
fundamental para o estado tornar-se desenvolvido. É um país pequeno e com 50%
de palestinos (árabes israelenses) que têm 8 filhos por mulher, esperam esmagar
demograficamente o povo hebreu, imaginam que em 2060 serão 90% da população
israelense e possam refundar a palestina Árabe. Se os israelenses forem mais
inteligentes, que deixem a falxa de gaza e parte da cisjordânia como país
palestino. Os palestinos que se multiplicam como ratos ficarão apertados no
pequeno território e passarão a reduzirem a natalidade.
De duas uma, a guerra de extermínio ou
o controle de população, pela educação do povo.
PS3: Os versos apresentados no último
parágrafo são de autoria de Dylan Thomas, traduzidos para o português por Mário
Faustino. Eles aparecem no cabeçalho do blog
do Reinaldo Azevedo.
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