sábado, 18 de fevereiro de 2012

EVRA X SUÁREZ: POR UMA ABORDAGEM JUSTA DA QUESTÃO DO RACISMO


            Ao tomar conhecimento do recente caso envolvendo acusações de racismo no futebol, tendo como protagonistas o uruguaio Luís Suárez e o francês, nascido no Senegal, Patrice Evra, jogadores do Liverpool e do Manchester United, respectivamente, fiquei tentado a, a partir de uma pesquisa mais detalhada na rede, expor a minha opinião. Não é tarefa das mais fáceis ou compensadoras, mas gosto dos desafios.
            O problema em se entrar num assunto como esse é que, por envolver racismo, muita coisa já parece estar, a priori e irremediavelmente, no seu devido lugar. Ou seja, ao tratar de um branco que usa termos pejorativos referentes à cor da pele com um negro, o caso não necessita de mais delongas. Condena-se o branco por racismo, e pronto. Quem tenta alongar a questão, principalmente sendo branco, geralmente passa a ser considerado conivente com o racismo, ou como alguém que tenta justificar o injustificável. Além disso, por envolver futebol, e a rivalidade é grande entre as equipes, a coisa passa a ser ainda mais polarizada. Em tudo isso fica faltando sempre uma coisa: justiça, ou pelo menos, a busca dela. E é nisso que vou me fitar, consciente de que faço a coisa certa.
            Pra quem não conhece o fato aí vai um resumo, feito com base no que boa parte da imprensa noticiou: Em um jogo entre as duas equipes, uma pequena discussão ocorre entre os dois jogadores por causa de uma jogada violenta. No meio do entrevero o uruguaio teria usado referências pejorativas à cor da pele do francês. Ao fim do jogo, este último entra com processo disciplinar na Federação Inglesa (FA) por racismo e acaba vencendo. A FA condena então o uruguaio a oito jogos de suspensão. Após cumprida a pena, as duas equipes voltam a se encontar. No momento do aperto de mão dos atletas, Suárez recusa-se a apertar a mão de Evra, acirrando ainda mais os ânimos. Pronto. O uruguaio condenado por racismo, também é mal-educado.
            Mas, peraí? Suárez foi condenado por quem? Por um tribunal da Inglaterra? Não, pela FA. O conselho que o julgou era composto por três homens, dois deles com íntimas ligações com os envolvidos: Denis Smith, que fez do medíocre Darren Ferguson, filho do treinador do United (de quem afirma já ter salvo o emprego), capitão do time galês Wrexam; e David Gill, Diretor Executivo do Manchester. Esse conselho ignorou o caráter inconstante do relato de Evra. Ignorou também seu histórico de falsas acusações de racismo. Fez vista grossa às palavras ofensivas do francês, ao chamar a irmã de Suárez de puta. E pra completar, ignorou o fato de não haver nenhuma prova concreta, nenhum vídeo, nenhum outro testemunho que corroborasse a acusação de Evra.
            Então, temos o seguinte: podemos afirmar que Suárez não é racista? Não, assim como não posso afirmar a mesma coisa sobre Evra ou sobre qualquer outra pessoa. O que posso dizer, tendo por base as normas mais elementares do direito e da justiça, é que o uruguaio, ou qualquer outro indivíduo, tem presumido o seu não racismo. É inocente desse crime até prova em contrário. Se formos aceitar que ele é racista com base em apenas um testemunho, nossa noção de direito e justiça é a mesma da Inquisição Espanhola. Aliás, até pior, pois esta aceitava, no mínimo, dois testemunhos, para levar adiante uma acusação.
            Quanto ao aperto de mão, das duas uma: ou ele é mesmo racista, coisa extremamente duvidosa, como já vimos, merecendo a execração pública de todos os amantes do futebol; ou ele é um cara de caráter muito firme, incapaz de, após ser acusado de coisa tão grave injustamente, fingir que nada aconteceu. Dadas as evidências, ou a falta delas, a segunda opção me parece mais plausível.

PS: O mais racional, para Suárez, seria processar o francês, assim como a FA, por calúnia. O uruguaio optou pela saída mais passional. Juro que eu, assim como, creio, muitas outras pessoas, faríamos a mesma coisa. Ser acusado do que não fez é a pior coisa que pode acontecer a um ser humano. 

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