O
senhor José Serra, candidato derrotado por duas vezes à Presidência da
República, publicou dia 9 de fevereiro, no Estadão, um artigo intitulado A era do oportunismo, no qual tece
críticas ferrenhas ao Partido dos Trabalhadores e ao governo Dilma Rousseff. O
texto foi visto com estardalhaço na mídia impressa, recebendo altas apologias
de seus quadros. Para lê-lo na íntegra, o endereço é http://www.joseserra.com.br/archives/artigo/a-era-do-oportunismo.
Como
não podia deixar de ser, vindo de quem veio, o artigo é carregado de equívocos
e incongruências. Coisa típica de quem subestima a inteligência alheia. É um
discurso vitimista, típico da nossa direita na atualidade. Uma voz que parece
clamar heróica em meio à tirania. Serra trata o governo brasileiro como
ditatorial. Um governo que não admite críticas e que coopta a imprensa. Paga
inclusive, segundo ele, propinas a determinados jornalistas, que escrevem nos
chamados “blogs sujos”. Esse
artifício teria duas finalidades: esconder os erros do PT e de seus aliados da
opinião pública; e, de forma complementar, também enlamear reputações de oposicionistas.
Acontece que quem tem um pouquinho de conhecimento e de honestidade sabe que
isso distorce os fatos. Senão, vejamos. Lula foi um dos presidentes mais
criticados e ridicularizados pela mídia, não ocorrendo em seu governo, no entanto,
nenhum fechamento de jornal, ou ato semelhante de autoritarismo estatal,
policialesco. Uma mídia, por sinal, sustentada em boa parte com recursos do
próprio governo, via verbas de publicidade. Além disso, a questão dos blogs que são pagos pra defender o
governo e atacar adversários é acusação antiga e nunca comprovada, demonstrando
leviandade do autor que, aliás, parece ter se acostumado a fazer esse tipo de
coisa, assim como a tratar de forma autoritária jornalistas que o colocam na
berlinda. E por falar em assassinato de reputações, o mestre nessa arte não vem
do governo, mas da oposição, trabalha naquela que é considerada a maior revista
do país, possui um blog e se chama
Reinaldo Azevedo.
Outra
característica do texto é seu conteúdo partidarista. Serra não defende uma
ideia, um princípio, apesar de ficar o tempo todo batendo nessa tecla. O que
ele faz é exatamente aquilo que está criticando. Além de subestimar a
inteligência alheia, de distorcer fatos, e de se mostrar equivocado, incongruente
e leviano, tudo isso em apenas doze parágrafos, o ex-prefeito mostra que também
é hipócrita. Seu texto tem uma só finalidade: atacar o PT. Os meios se
justificam em nome disso. Ele critica o partido, acusando-o de não ter mais
referências, de ter tornado-se pragmático. Ora, mas não era a falta disso que
tornava o PT ruim? Um partido ideológico, sem os pés no chão? Ele acusa o
partido de ter privatizado os aeroportos (na verdade foi uma concessão). Mas
isso não é algo moderno? Segundo ele, o PT não fez nada para resolver o
problema do Pinheirinho. Mas não foi o governo Alckmin quem mandou sua polícia
“baixar o sarrafo” nos coitados? Ele também diz que o PT coopta os partidos com
cargos para governar com maioria. Mas não foi isso que fez FHC, ao jogar no
lixo sua biografia e se aliar com o que havia de mais conservador e retrógrado
na política brasileira? O Partido dos Trabalhadores não é nenhum conclave de
santos. Mas não é o senhor Serra quem tem moral para criticá-lo.
E
a continuar assim, a tendência de José Serra é afundar cada vez mais no
ostracismo político. Seus ataques não surtem mais efeito. Não possuem
fundamento, nem coerência. Seu telhado, principalmente depois dA privataria Tucana, torna-se cada vez
mais frágil. Suas palavras dão mostras somente de desespero e de rancor. São o
supra-sumo do que representa a direita atual, incapaz de, séria e honestamente,
debater ideias e projetos. Nós da esquerda, agradecemos!
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