A indústria do entretenimento, aquela
que usa a arte, ou a falta dela, como forma de ganhar dinheiro, não deixa de
nos surpreender. Principalmente quando se trata de música. Depois de Roberto
Carlos, do forró estilizado, do sertanejo meloso, dos pagodeiros, do funk, do pancadão, das popozudas, das
potrancas, das egüinhas e dos emos, a nova moda é o sertanejo “universitário”,
também chamado do “novo sertanejo”. Esse “novo som”, na verdade não passa de um
arremedo daquele mesmo estilo das duplas melosas da década de 90, como Zezé di
Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo, só que agora feito para um
público novo, com novas temáticas, novos instrumentos, novo figurino, mas com a
mesma mediocridade poética, melódica e artística. Novas formas para o mesmo
conteúdo.
Diz
o senso comum que gosto não se discute. Parece uma questão de respeito à
opinião do outro, mas não é. É, na verdade, um culto à ignorância. A pessoa
abdica de sua racionalidade, um de seus bens mais preciosos, deixando de pensar
sobre algo tão essencial na sua vida. Tratamos o gosto como se ele fosse algo
inato, nascido espontaneamente em nossas cabeças. Esquecemos de que ele é
condicionado pela sociedade, pelos contatos que temos com outras pessoas. O
gosto é, muitas vezes, uma manipulação. Somos manipulados, como cachorros que
gostam de ossos porque nunca lhes fizeram saber o que era um filé. Enchemos o
bolso de pessoas que fazem coisas que qualquer um de nós pode fazer. E nos
privamos de discutir isso. É muita pretensão do gosto. Num mundo onde até Deus
é posto em xeque, alçamos o gosto pessoal à condição de algo intocável, isento
de qualquer juízo. Além de pretensão, é muito autoritarismo. Quem não discute
gosto está, de fato, se fechando na própria imbecilidade, incapaz que é de
explicar porque aquilo de que gosta é tão bom. Incapaz que é de falar sobre o
que quer que seja, vivendo como um cão que corre, contente e satisfeito, atrás
de um pedaço de osso.
Dito
isto, voltemos ao sertanejo “universitário”. Quem começou foi a dupla João
Bosco & Vinícius. Depois vieram outras, como Bruno & Marrone, Vítor
& Léo e Fernando & Sorocaba, até a inovação dos cantores solos como
Luan Santana e Michel Teló. A “nova roupagem” dada pelo novo estilo ao
sertanejo clássico, vem no intuito de aproveitar um público mais urbano, mais
classe média e de melhor escolaridade. Daí o nome universitário, que dá ao
estilo um tom de bom gosto e de bom desenvolvimento cultural. Na verdade, com o
nível atual dos estudantes universitários, que mal sabem interpretar ou
elaborar um pequeno texto, e que não lêem nada além daquilo que está no
programa das disciplinas, universidade deixou de ser sinônimo de cultivação
estética. Senão, vejamos as frases do sertanojo universitrônico, como alguns
chamam, que tocam nas festas universitárias:
·
Isso me irrita, isso me
irrita, vazo pra gandaia e tô de novo na fita.
·
Me persegue quando vou sair, será
que ela é do FBI, na internet ela vive a fuçar, desse jeito não da pra agüentar.
·
E daí se eu quiser farrear tomar todas
num bar sair pra namorar, o que é que tem?
·
Todo dia seu teatro é exatamente igual,
você finge que me odeia, mas no fundo paga pau.
·
Que pescar que nada, vou matar a fome,
lá ninguém se mete lá vai ter sete pra cada homem.
·
Se a mulherada é de primeira, fico até
segunda-feira, bebo até ficar tonto.
Alguns
sítios, como o Manicômio S.A, criaram até algumas regrinhas para ser um
autêntico cantor do sertanejo universitário. Aí vai:
1.
Mostre o quanto você é gostosão e pegador.
2.
Jogue na cara da sua ex que você
está muito melhor sem ela. Ou não.
3.
Você pode ter sítio, mas você é um caubói moderno: nada de
tirar leite, capar boi. Você é baladeiro.
4.
Beba, beba, beba, beba, beba, beba, beba e beba.
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