O Estado de Israel é um dos países mais interessantes da
atualidade. Ele foi criado para ser a pátria de um povo, os judeus, alijado do
mesmo território dois mil anos antes, e que passou por enormes perseguições
durante esse período, principalmente no continente europeu, desde aquelas
justificadas por questões religiosas, e culminando com a mais recente, e mais
conhecida, motivada por uma ideologia baseada no nacionalismo e na pureza
racial, o nazismo alemão. Mas o que o
torna interessante são as suas contradições.
O país foi
criado artificialmente pela ONU, em 1948, tendo sido necessário para a sua
instalação, fazer uma realocação na região, habitada, na época, majoritariamente,
por um povo muçulmano que vivia ali desde as últimas cruzadas, o povo
palestino. Esse povo teve de ser retirado da terra que habitavam a centenas de
anos para dar lugar a outro, com o qual possuía gritantes divergências,
principalmente religiosas.
Para obedecer aos ditames do
Ocidente, que patrocinou, subscreveu e tornou possível sua criação, o novo país
teria de ser laico e democrático. Primeira questão: onde se encontra o
apregoado laicismo de Israel? Na verdade, ele não existe, é uma falsidade. Sua
própria Declaração de Independência já assegura a idéia de que o novo país é
para o povo judeu. A sociedade, a cultura e os feriados israelenses são
judaicos. A bandeira traz um milenar símbolo da cultura e da religião judaica.
O dito laicismo é somente uma máscara para o país parecer moderno diante da
mentalidade ocidental.
Assim como a
questão da democracia. A nossa mídia sempre tenta passar que o Estado de Israel
é uma ilha de democracia em meio a um mar de ditaduras no Oriente Médio. Tentam
nos convencer que em todas as guerras em que se mete Israel tem sempre razão,
por causa dessa sua “qualidade superior”. Mas será que o país judeu é realmente
democrático? Se depender das eleições, o que para a nossa mídia já é muita
coisa, sim. Mas democracia não significa somente eleições. Se fosse assim o
Irã, tão odiado por essa mesma mídia, também seria uma democracia, pois lá
existem eleições periódicas pra presidente. Mas o cidadão israelense não-judeu,
ou mesmo aqueles que o são, mas que não apóiam a política militarista de seu
país, não possuem seus direitos garantidos. Garantia de direitos é coisa
imprescindível em qualquer democracia. Em nome de um “estado de necessidade”, o
Estado pratica contra seus cidadãos e outras pessoas, desde torturas até execuções
extrajudiciais. Esse “estado de necessidade” se justifica, em tese, pela luta
constante do país contra supostos terroristas vindos dos inimigos da
vizinhança. Digo em tese porque na verdade é somente uma desculpa para eliminar
opositores sem que se responda por isso perante a comunidade internacional.
Por falar
nisso, imagine se o que acontece em Israel ocorresse em Cuba. Ou mesmo no Irã.
Os jornalistas mercenários do Brasil iriam pronunciar inflamados discursos
defendendo liberdades e direitos humanos. Como Israel está inserido no esquema
comercial mundial, o que não acontece com os outros dois países citados, tudo é
permitido a ele. Coisa similar acontece com a Arábia Saudita, um dos regimes
mais autoritários do mundo, blindado pelo fato de ser aliado inconteste do
Ocidente no Oriente Médio. Mas sobre isso, ninguém nunca irá ouvir falar na
nossa mídia.
Assim como
ninguém ouvirá contrapontos quando o assunto for terrorismo. Terrorista, para a
grande mídia, e para a direita em geral, é somente aquele que mata inocentes em
nome de uma causa revolucionária. Quem mata inocentes em nome da segurança
nacional, como os exércitos americano e israelense, estão defendendo os valores
supremos da civilização ocidental. E em se tratando de judeus, a coisa se torna
emblemática, já que a maioria dos historiadores considera os zelotas, grupo
judeu nacionalista da época do Império Romano, do qual faziam parte inclusive
dois dos apóstolos de Jesus, como o primeiro grupo terrorista da história.
Aliás, o próprio Estado de Israel é fruto, entre outras coisas evidentemente, da
pressão causada por atentados contra britânicos e árabes, promovidos por grupos
terroristas judaicos, como o Irgun. Esse grupo, sob a liderança do futuro
primeiro-ministro israelense, Menachem Begin, organizou, inclusive, um dos
maiores atentados da história da região: a explosão de uma bomba no hotel King
David, em Jerusalém, em 22 de julho de 1946, cujo saldo foi de 91 mortos,
incluindo britânicos, árabes e até judeus, e 45 feridos. Mais intrigante é o
fato do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em 2006, ter promovido um evento
comemorativo do atentado, com placa e tudo.
Por fim, os
israelenses são mestres no que eu chamo de prostituir a história. Isso
significa usar a história a seu bel-prazer, ressaltando os fatos que lhe
interessam e escondendo os que lhe constrangem. O objetivo é, de um lado, se
mostrar sempre como vítima, e de outro, buscar justificação para seus crimes.
Com base nisso, qualquer pessoa que faça críticas ao país é considerado
anti-semita e acusado de não respeitar o passado de sofrimento do povo judeu.
Esse discurso é propagado por nossa mídia, apoiadora incondicional do estado
judeu. Isso só mostra o tamanho da desfaçatez de ambos. O Holocausto, página
podre da história da humanidade, não pode jamais ser usado por qualquer pessoa
racional e decente, como justificativa para o que Israel faz com os palestinos.
Quem passou por ele sabe disso. A grande maioria dos que apóiam ou praticam o
assassinato de inocentes árabes, só sabem o que foi o Holocausto por relatos de
sobreviventes ou outras fontes, como qualquer um de nós. Quem o sofreu na pele
reconhece o horror que existe na intolerância, e se recusa a agir da mesma
forma com seus semelhantes. Usar o anti-semitismo como blindagem para crimes é
nivelar por baixo o povo judeu e desrespeitar a memória dos que foram vítimas
desse preconceito.
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