O
palmeirense está de luto. Um luto esportivo, como disse um comentarista. O
futebol brasileiro como um todo também deve estar. Afinal, sai de cena um dos
esportistas mais competentes, corretos, leais e carismáticos deste país: Marcos
Roberto Silveira Reis, o Marcão, São Marcos, Marcos do Palmeiras, Marcos do
Penta. O anúncio foi feito na quarta, 4 de janeiro.
Com 38 anos
de idade, quase 20 de carreira e 22 títulos, três deles com a Seleção
Brasileira, incluindo o pentacampeonato mundial de 2002, em que foi decisivo,
Marcos representa um tipo raro de profissional. Primeiro, por ser praticamente
uma unanimidade. Idolatrado pelos palmeirenses, o goleiro é respeitado por
torcedores de todos os clubes do Brasil. Ninguém duvida da sua extrema
competência debaixo das traves. Segundo, pela sua postura e comportamento, sem
apelar para marketings baratos ou visuais espalhafatosos, ou mesmo para o tipo
capa de revista de moda. Não era bonitinho ou garoto propaganda. Nem era uma
caricatura. Era goleiro e pronto. Terceiro, por ser leal ao seu clube e à sua
torcida, por defender a camisa, por ser ele mesmo um torcedor. Como poucos da
atualidade (Casillas, Puyol, Totti, Xavi Hernández, Shovkovskyi, Rogério Ceni)
Marcos só atuou profissionalmente pelo Palmeiras. Prova maior do seu
compromisso com o clube, foi quando no início de 2003, após o rebaixamento da
sua equipe para a Série B do Brasileirão, recusou uma proposta de 45 milhões do
Arsenal, para colocar o time de volta no escalão de elite do futebol
brasileiro. Finalmente, por ser uma pessoa extremamente carismática. Um carisma
que impõe respeito. Tanto é que quando critica o time, nem o presidente o
replica.
Mas nem
todos são tão justos com São Marcos. Para quem foi um dos grandes responsáveis
pelo penta do Brasil em 2002 (cf. vídeos no final), junto com Ronaldo, Rivaldo,
Scolari e Oliver Kahn, o goleiro não possui seu nome no Hall da Fama da Seleção
Brasileira. Estão lá os nomes de Julinho Botelho, cujo único título com a
Seleção foi a Copa Rocca de 1960, e de Sócrates e Falcão, jogadores de renome,
mas que nunca ganharam sequer uma Copa América. Os dois únicos goleiros da
lista são o campeão de 58 e 62 Gylmar, e o de 94, Taffarel. E o palmeirense não
deixa a desejar a nenhum deles.
Para mim
pessoalmente, torcedor alviverde desde os oito anos, antes mesmo do
bicampeonato 93/94, e que gosto de brincar de goleiro (muito ruim, por sinal),
Marcão foi mais que um ídolo, foi uma referência. Não dá pra separar o atleta
do homem. Sua vida é um exemplo pra quem quer ser as duas coisas em plenitude,
pois foi assim que ele viveu. Exemplo maior foi a atitude que tomou de não
cobrar pênalti quando o Palmeiras vencia o Avaí por 4x0, dia 09 de julho do ano
passado, em jogo válido pela 5ª rodada do Campeonato Brasileiro. Ele alegou que
não seria justo com o jovem goleiro do Avaí, que já tinha levado quatro, e que
ele não era o batedor do time, sendo covardia aproveitar a goleada para fazer a
cobrança. Qualquer um teria batido e seria uma coisa normal. Mas os grandes
definitivamente não são normais.
Que Deus
continue abençoando esse grande homem e excepcional atleta. Que ele continue,
como sempre fez, sendo um exemplo para todos. E que continue engajado no
futebol, dando sua força para os novos talentos que vão aparecendo e que sempre
precisam de boas referências. Valeu Marcão!!!
OBS.: Como prometido, aí vão os dois vídeos, que mostram os
milagres de São Marcos na final da Copa de 2002. Duas defesas, sem dúvida
nenhuma, para pouquíssimos goleiros. Lembrando que a partida terminou Brasil
2x0 Alemanha, evitaram o empate no tempo regulamentar, resultado que poderia
ter alterado, mais tarde, o destino da taça. Sei que muitos lembram desses
lances. Mas sempre é bom refrescar a memória.
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