quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A FALTA DE PERSPECTIVA DA DIREITA


            A direita brasileira está em polvorosa. Mesmo tendo, durante todo o século passado, dado golpes militares, enfraquecido líderes populares tradicionais e manipulado a opinião pública contra candidatos seua adversários, não imaginavam que, ao fim de tudo, uma candidatura de esquerda venceria uma eleição, ou melhor, três seguidas. Não imaginavam que a mídia perderia o poder quase absoluto que possuía de manipular a consciência dos eleitores. Estão desesperados por perderem a perspectiva de mudar essa situação. Partem pro embate como quem dá socos a esmo.
            Típico desse embate é a rotulagem. Palavras como democracia, ditadura, fascismo, entre outras, são usadas demagogicamente, sem base conceitual aceitável, no intuito de conquistar o senso comum. É um vale tudo conceitual. E nessa guerra suja entram políticos, jornalistas e até, pasmem, acadêmicos. O mais recente caso é o do historiador Marco Antônio Villa, em artigo publicado na Folha, sob o título Ministério da Verdade: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/ministerio-da-verdade/. O texto surpreende, mas não devia. Surpreende ver um historiador renomado produzir um texto tão panfletário e de uma verborragia tão rancorosa. Não devia surpreender porque o professor Villa já é acostumado a esse tipo de atitude, como nesse texto http://paginadoenock.com.br/home/printpost/10539, em que é brilhantemente rebatido por Altamiro Borges, ou quando defende a ditadura militar, sendo também rebatido, dessa vez por outro jornalista, Luís Nassif: http://blogln.ning.com/forum/topics/marco-antonio-villa-e-a.
            Ao ver isso, vem-me à mente uma entrevista na revista Caros Amigos em que Leonardo Boff diz que FHC não devia mais ser chamado de intelectual, pois julga a sociedade a partir de um jogo de interesses. Não parte mais da ciência. É um político. O mesmo acontece com Villa. Alguns podem perguntar, mas o que há de mal nisso? À primeira vista, nada. O problema existe quando um acadêmico traz uma análise política (pessimamente feita, por sinal), distorcendo horrivelmente conceitos utilizados em sua ciência. Não esclarece, confunde. Por isso, não pode se intitular professor.
            Villa, assim como seus colegas jornalistas da direita, faz um texto escatológico. Ao lê-lo, tem-se a impressão de que vivemos numa ditadura, de que a esquerda odeia a democracia e as liberdades e de que a imprensa de direita é a guardiã legítima da moral e dos bons costumes contra o “perigo vermelho”. A questão é que ele não se conforma com o fato de se ter um governo de esquerda e de que esse seja formado por uma coalizão de partidos dos mais variados matizes programáticos (coisa inimaginável, pois todo esquerdista seria um radical) que deteria mais de 80% das cadeiras do Congresso. A saída então, é chamar de ditadura. Como disse Millôr: “democracia é quando eu mando, ditadura é quando você manda”. O professor cria inclusive um falso ar de temeridade, digna de um prisioneiro num Gulag, falando em “rolo compressor do poder” e dizendo que o governo age de forma policialesca.
            Para dar mais ênfase a esse tipo de discurso, Marco Antônio cita, como já é corrente nessas abordagens, países da América do Sul governados pela esquerda, como a Venezuela, o Equador e a Argentina, exemplos para a direita de governos autoritários, apesar de possuírem Constituição, três poderes, e de terem sido eleitos pelo voto popular. Millôr de novo!
            O grande herói pra ele é, claro, a imprensa, entendida aqui com a grande mídia. Isso mesmo! Aquela que esconde as falcatruas dos tucanos. Aquela que chama movimentos sociais de terroristas. Aquela que inventou a bolinha de papel. Aquela que destrói reputações, que julga e condena sem provas seus adversários. Aquela que se cala, ou mesmo censura, quando algo a atinge ou a seus comparsas, para usar uma palavra que nosso ilustre historiador gosta de escrever em seus textos contra o PT. Essa mídia, que apesar de vivermos num regime em que “o rolo compressor do poder” age sobejamente, tratou o presidente da república durante oito anos por anta, apedeuta, babalorixá de Banânia, mula, entre outras alcunhas, e que nunca sofreu sequer um processo judicial. Só ela é capaz de acabar com esse estado de coisas, já que “nossa sociedade civil é extremamente frágil”, palavras de Villa.
            Fico pensando como seria uma aula do professor Villa. Afinal, escrever num jornal, de frente pro nada, como até eu estou fazendo agora é fácil. Difícil é estar diante de homens e mulheres que lêem textos acadêmicos e querer convencê-los de toda essa pantomima. Tive colegas na faculdade que desbancariam o professor em dois tempos. Parece que tanto estudo não valeu de nada.
            E é nessa sua própria postura que Marco Antônio Villa deveria encontrar o porquê do fracasso da direita no Brasil, de 2002 pra cá. Ela ficou sem perspectiva, perdeu o apoio popular e seus projetos estão sem fundamento. Além disso, sua saída tradicional, como dar golpes e assassinar reputações através da imprensa, estão, no primeiro caso, fora de cogitação, por falta do apoio de setores estratégicos (Igreja, empresários, militares, congressistas) como antes ou, como no segundo caso, não surtindo o efeito desejado. Falta aos conservadores um projeto de nação, adaptado aos novos tempos de democracia. Só assim poderão ser levados a sério pelos eleitores novamente. Senão, vão continuar estrebuchando pateticamente, utilizando dessa politicagem verbal pra sobreviver.

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