Hoje em dia,
a moda é ser politicamente incorreto. Entre alguns jornalistas e,
principalmente, humoristas, a ordem do dia é se libertar dos “grilhões” do que
é chamado de politicamente correto, tido como uma invenção das esquerdas para
patrulharem e, consequentemente, exercerem censura, sobre as manisfestações
artísticas e jornalísticas. Ser politicamente incorreto tornou-se sinônimo de
ser livre.
Vamos
entender. Num mundo em que o racismo é extremamente combatido, em que cada vez
mais os direitos das minorias são reconhecidos e em que o bullying na escola e no trabalho é finalmente discutido, a
preocupação desses caras é pura simplesmente com a liberdade de destratar os
outros, de fazerem piadas racistas e de ofenderem. Se o cara fala que todas as
pessoas do meu estado são feias ou que minha cidade é o cu do mundo, e eu me
ofendo, o errado sou eu. Vão dizer que o humor é assim mesmo, como se todo
humor fosse cretino e grosseiro.
O cúmulo de tudo isso foi a
declaração de Marcelo Tas, depois da repercussão da piada dita no ar por seu
companheiro de bancada, Rafinha Bastos, já sobejamente conhecida, em relação à
cantora Wanessa Camargo e seu filho nascituro. Diz Tas: “O limite do humor é a
graça, é ser engraçado. Se você faz uma coisa que agride alguém e não é
engraçado, aí para mim você chegou no limite.” O engraçado (?) é Rafinha. A
errada é Wanessa. Antes ele já havia dito: “O politicamente
correto é uma peste que veio para infernizar a vida dos seres humanos, sou
totalmente contra.”
Ou seja, assim como aqueles jornalistas que usam seu poder de informar para
assassinar reputações, Tas acha que o humorista deve ser um intocável, alguém
que deve ser engraçado (?) e falar o que quiser. O resto que se dane!
Dentro dessa
linha de pensamento, muito atual, infelizmente, não existe espaço para a
dimensão ética das coisas. O que vale é o mercado: se as pessoas gostam, vai
continuar a ser feito. Repare também que o apresentador do CQC reduz tudo à uma
dimensão relativa, ao falar de engraçado. Mas o que é engraçado? Alguns acham
Charles Chaplin. Ou Roberto Bolaños. Outros acham Rafinha Bastos. Eu não acho.
Nem a Wanessa Camargo. Nem tampouco o Ronaldo Fenômeno. Ou qualquer pessoa que
tenha um pouquinho de ética. Tenha certeza que nem mesmo os juízes que irão
julgar o caso, já que a cantora entrou com processo na justiça por injúria. Mas
que importa isso, ética e o escambau. Rafinha só quer dar orgulho aos pais como
deixou claro neste vídeo.
Não morro de
amores pela Wanessa Camargo. Talvez a piada nem justifique tudo isso. Mas só
sabe o tamanho da dor quem apanha. O caso deveria servir ao menos para que esse
tipo de humorista realizasse uma avaliação sincera de si mesmo e do seu modo de
trabalhar. Mas a certeza da própria intocabilidade, do próprio direito de dizer
o que quer, subiu à cabeça. Para quem não aprende conversando, só resta o rigor
da lei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este é um espaço para opiniões inteligentes, construtivas e argumentadas. Se baixar o nível, lembre-se que determinados insultos mostram mais sobre quem fala do que sobre quem ouve.