terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O POLITICAMENTE INCORRETO E OS LIMITES DO HUMOR


            Hoje em dia, a moda é ser politicamente incorreto. Entre alguns jornalistas e, principalmente, humoristas, a ordem do dia é se libertar dos “grilhões” do que é chamado de politicamente correto, tido como uma invenção das esquerdas para patrulharem e, consequentemente, exercerem censura, sobre as manisfestações artísticas e jornalísticas. Ser politicamente incorreto tornou-se sinônimo de ser livre.
            Vamos entender. Num mundo em que o racismo é extremamente combatido, em que cada vez mais os direitos das minorias são reconhecidos e em que o bullying na escola e no trabalho é finalmente discutido, a preocupação desses caras é pura simplesmente com a liberdade de destratar os outros, de fazerem piadas racistas e de ofenderem. Se o cara fala que todas as pessoas do meu estado são feias ou que minha cidade é o cu do mundo, e eu me ofendo, o errado sou eu. Vão dizer que o humor é assim mesmo, como se todo humor fosse cretino e grosseiro.
            O cúmulo de tudo isso foi a declaração de Marcelo Tas, depois da repercussão da piada dita no ar por seu companheiro de bancada, Rafinha Bastos, já sobejamente conhecida, em relação à cantora Wanessa Camargo e seu filho nascituro. Diz Tas: “O limite do humor é a graça, é ser engraçado. Se você faz uma coisa que agride alguém e não é engraçado, aí para mim você chegou no limite.” O engraçado (?) é Rafinha. A errada é Wanessa. Antes ele já havia dito: “O politicamente correto é uma peste que veio para infernizar a vida dos seres humanos, sou totalmente contra.” Ou seja, assim como aqueles jornalistas que usam seu poder de informar para assassinar reputações, Tas acha que o humorista deve ser um intocável, alguém que deve ser engraçado (?) e falar o que quiser. O resto que se dane!
            Dentro dessa linha de pensamento, muito atual, infelizmente, não existe espaço para a dimensão ética das coisas. O que vale é o mercado: se as pessoas gostam, vai continuar a ser feito. Repare também que o apresentador do CQC reduz tudo à uma dimensão relativa, ao falar de engraçado. Mas o que é engraçado? Alguns acham Charles Chaplin. Ou Roberto Bolaños. Outros acham Rafinha Bastos. Eu não acho. Nem a Wanessa Camargo. Nem tampouco o Ronaldo Fenômeno. Ou qualquer pessoa que tenha um pouquinho de ética. Tenha certeza que nem mesmo os juízes que irão julgar o caso, já que a cantora entrou com processo na justiça por injúria. Mas que importa isso, ética e o escambau. Rafinha só quer dar orgulho aos pais como deixou claro neste vídeo.



            Não morro de amores pela Wanessa Camargo. Talvez a piada nem justifique tudo isso. Mas só sabe o tamanho da dor quem apanha. O caso deveria servir ao menos para que esse tipo de humorista realizasse uma avaliação sincera de si mesmo e do seu modo de trabalhar. Mas a certeza da própria intocabilidade, do próprio direito de dizer o que quer, subiu à cabeça. Para quem não aprende conversando, só resta o rigor da lei. 

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