sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O DIREITO DE BLASFEMAR


            Há coisas que precisam ser entendidas com bastante paciência e lucidez para que não se fique por aí falando besteiras, como aquelas exemplificadas na minha última postagem (A FALTA DE PERSPECTIVA DA DIREITA). Uma delas é o termo liberdade de expressão. Todos devem saber, mas não custa lembrar, que entender qualquer referência ao termo “liberdade” como sinônimo de “vale-tudo”, é uma cretinice e uma desonestidade intelectual. O que estou dizendo é que, mesmo sendo a liberdade um valor extremamente caro, sabe disso principalmente quem a perde, o seu exercício responsável depende da aceitação de certas regras. Exemplos: posso fazer o que quiser na minha casa, mas não posso escancarar as portas e janelas e ficar pelado dentro dela; posso me locomover com meu carro por toda a cidade, mas não posso fazer isso embriagado; posso escrever o que quiser no meu blog, contanto que não possua conteúdo racista, ofensivo ou difamatório. Enfim, minha liberdade é limitada pelo respeito aos outros.
            Mas quem poderia ser contra isso?, perguntarão alguns. Bem, acontece que muitos defensores do estado de direito, até mesmo colegas meus da esquerda, acham que no caso da religião, isso não se aplica. É o que se convencionou chamar de “direito de blasfemar”.
            Antes, quero deixar bem claro algumas coisas. Sou católico, como consta no meu perfil, e isso significa que acredito em uma gama de coisas que muitos podem considerar absurdas. No entanto, não tenho a intenção neste momento (nem foi pra isso que criei o blog) de fazer proselitismo dessa crença. Minha intenção é chamar a atenção para uma coisa bem mundana: respeito aos valores e às opiniões dos outros. Também não quero vitimizar demasiadamente os religiosos, pois sei que muitos são agredidos porque agridem primeiro. Afinal, cretinice não escolhe crença ou a falta dela. Dito isso, vamos ao que interessa.
            Preconceito é crime, não importa qual seja seu matiz, se é pela cor da pele, pelo gênero, pelo país de origem ou pela religião, qualquer que seja. Se eu fizesse afirmações ofensivas contra espíritas ou contra ateus, seria considerado um fundamentalista e chamado de todos os palavrões possíveis, com toda a razão. E isso, diga-se de passagem, ninguém jamais me verá fazer. Até porque é crime, pois de acordo com o Código Penal: “Art. 208: Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.”
            O problema que vejo é que quando um ateu, ou um “laicista”, atacam a religião (repito, qualquer uma delas) isso é considerado como um ato de resistência, moderno, revolucionário. É como dizer que piada de negro não vale, mas de português, vale. E quando digo atacar a religião, não estou falando de denunciar casos de pedofilia na Igreja ou de repudiar a violência ou as guerras santas. O que eu digo é que, para os religiosos, determinados símbolos (crucifixos, imagens, adornos) e personalidades (Jesus, Maria, Maomé, Buda) são valores que precisam ser respeitados. Se os católicos crêem que Maria é sua mãe, fazer piadas grosseiras com ela equivale a um insulto irreparável. Ou alguém gosta quando se insulta a própria mãe. Um ateu inteligente, ou um teísta inteligente, deve ter formas menos estúpidas de defender seu ponto de vista. É isso o que tento fazer aqui.
            Pra terminar, quero dizer que a questão religiosa é algo muito íntimo de cada um. E que qualquer pessoa, crente ou atéia, tem o direito de expressar seus pensamentos. Quero dizer também que tenho amigos ateus, protestantes, espíritas, e que convivo muito bem com eles em regime de respeito mútuo. Respeito, por sinal, é um valor de absoluta superioridade, inclusive perante a liberdade. Liberdade para o insulto e para o desrespeito não vale nada! O convívio harmônico entre as diferenças é o primeiro passo para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Portanto, mais feliz.  

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