Há coisas
que precisam ser entendidas com bastante paciência e lucidez para que não se
fique por aí falando besteiras, como aquelas exemplificadas na minha última
postagem (A FALTA DE PERSPECTIVA DA DIREITA). Uma delas é o termo liberdade de
expressão. Todos devem saber, mas não custa lembrar, que entender qualquer
referência ao termo “liberdade” como sinônimo de “vale-tudo”, é uma cretinice e
uma desonestidade intelectual. O que estou dizendo é que, mesmo sendo a
liberdade um valor extremamente caro, sabe disso principalmente quem a perde, o
seu exercício responsável depende da aceitação de certas regras. Exemplos:
posso fazer o que quiser na minha casa, mas não posso escancarar as portas e
janelas e ficar pelado dentro dela; posso me locomover com meu carro por toda a
cidade, mas não posso fazer isso embriagado; posso escrever o que quiser no meu
blog, contanto que não possua
conteúdo racista, ofensivo ou difamatório. Enfim, minha liberdade é limitada
pelo respeito aos outros.
Mas quem
poderia ser contra isso?, perguntarão alguns. Bem, acontece que muitos
defensores do estado de direito, até mesmo colegas meus da esquerda, acham que
no caso da religião, isso não se aplica. É o que se convencionou chamar de
“direito de blasfemar”.
Antes, quero
deixar bem claro algumas coisas. Sou católico, como consta no meu perfil, e
isso significa que acredito em uma gama de coisas que muitos podem considerar
absurdas. No entanto, não tenho a intenção neste momento (nem foi pra isso que
criei o blog) de fazer proselitismo
dessa crença. Minha intenção é chamar a atenção para uma coisa bem mundana:
respeito aos valores e às opiniões dos outros. Também não quero vitimizar
demasiadamente os religiosos, pois sei que muitos são agredidos porque agridem
primeiro. Afinal, cretinice não escolhe crença ou a falta dela. Dito isso,
vamos ao que interessa.
Preconceito
é crime, não importa qual seja seu matiz, se é pela cor da pele, pelo gênero,
pelo país de origem ou pela religião, qualquer que seja. Se eu fizesse
afirmações ofensivas contra espíritas ou contra ateus, seria considerado um
fundamentalista e chamado de todos os palavrões possíveis, com toda a razão. E
isso, diga-se de passagem, ninguém jamais me verá fazer. Até porque é crime,
pois de acordo com o Código Penal: “Art. 208: Escarnecer de alguém
publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar
cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto
de culto religioso: Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.”
O problema
que vejo é que quando um ateu, ou um “laicista”, atacam a religião (repito,
qualquer uma delas) isso é considerado como um ato de resistência, moderno,
revolucionário. É como dizer que piada de negro não vale, mas de português,
vale. E quando digo atacar a religião, não estou falando de denunciar casos de
pedofilia na Igreja ou de repudiar a violência ou as guerras santas. O que eu
digo é que, para os religiosos, determinados símbolos (crucifixos, imagens,
adornos) e personalidades (Jesus, Maria, Maomé, Buda) são valores que precisam
ser respeitados. Se os católicos crêem que Maria é sua mãe, fazer piadas
grosseiras com ela equivale a um insulto irreparável. Ou alguém gosta quando se
insulta a própria mãe. Um ateu inteligente, ou um teísta inteligente, deve ter
formas menos estúpidas de defender seu ponto de vista. É isso o que tento fazer
aqui.
Pra
terminar, quero dizer que a questão religiosa é algo muito íntimo de cada um. E
que qualquer pessoa, crente ou atéia, tem o direito de expressar seus
pensamentos. Quero dizer também que tenho amigos ateus, protestantes,
espíritas, e que convivo muito bem com eles em regime de respeito mútuo.
Respeito, por sinal, é um valor de absoluta superioridade, inclusive perante a
liberdade. Liberdade para o insulto e para o desrespeito não vale nada! O
convívio harmônico entre as diferenças é o primeiro passo para a construção de
uma sociedade mais justa e fraterna. Portanto, mais feliz.
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