Não
dá pra ignorar as pérolas de Reinaldo Azevedo. Em qualquer assunto o cara quer
dar pitaco. E claro, sempre defendendo causas indignas. Com o episódio da
invasão do Pinheirinho, não podia ser diferente. Tio Rei, como é ridiculamente
chamado por seu séquito de fãs-comentaristas, defende com unhas e dentes a ação
violenta da polícia. E justifica dizendo que ela só cumpriu decisão judicial,
coisa ante a qual não poderia tergiversar. Diz ele:
“No Estado democrático e de direito, as determinações judiciais são
cumpridas. Refiro-me, obviamente, AO CUMPRIMENTO DE UMA DETERMINAÇÃO JUDICIAL,
de que a Polícia Militar não pode declinar, que resultou na desocupação da
chamada “Área do Pinheirinho”, em São José dos Campos, em São Paulo. O governo
de São Paulo e a Polícia Militar não podem escolher cumprir ou não o que
determina a Justiça. Se pudessem, seriam entes soberanos —- na verdade,
ditatoriais. O STJ decidiu que a competência era mesmo da Justiça estadual e
que a Federal se equivocou. Logo, os invasores do Pinheirinho teriam de sair. E
a PM atuou. Dentro da lei.”
Interessante, no mínimo! Principalmente constatando-se
que há, sim, determinações judiciais que não são cumpridas pelo governo do estado
de São Paulo. Como a que envolve os professores de sua rede pública (cf.: http://apeoesp.blogspot.com/2012/01/nosso-desafio-agora-e-fazer-o-governo.html). Além disso, essa absolutização da
lei (como se todas as leis fossem justas ou imutáveis), acaba por encobrir a
noção do que é justo e certo. Até porque há direitos que são conflituosos entre
si. Por exemplo: é justo o direito à moradia de milhares de pessoas ser deixado
de lado em nome do direito de propriedade de um único sujeito, ainda mais sendo
ele o senhor Naji Nahas? Deve existir formas de a legalidade ser uma busca por
justiça. Até porque justiça é transcendente. Legalidade é temporal. Cristãos
eram devorados na arena porque assim rezava a legalidade romana. Judeus eram
executados em câmaras de gás porque assim rezava a legalidade nazista. Negros
eram escravizados em fazendas de café porque assim rezava a legalidade do
Brasil Imperial. Depois reclamam quando o judiciário é chamado de “justiça
burguesa”.
Quanto
a Naji Nahas, deixo a palavra com a própria revista Veja: (http://veja.abril.com.br/infograficos/rede-escandalos/perfil/naji-nahas.shtml):
“O empresário libanês
naturalizado brasileiro foi apontado pela polícia como responsável por lavar o
dinheiro ilegalmente no mercado de capitais. Ao lado de Dantas, Nahas teria
montado um esquema de lavagem de dinheiro e de uso indevido de informações privilegiadas.
Nas investigações da Satiagraha, agentes armados vasculharam o escritório do
investidor em busca de documentos e computadores, mas levaram também uma
coleção de obras de arte que adornava as paredes. As telas foram levadas ao
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), por decisão
da 6ª Vara Criminal Federal.
A Polícia Federal o prendeu em sua casa
em 8 de junho de 2008 - e o STF o liberou alguns dias dias depois. Foi
indiciado por evasão de divisas, operação de instituição financeira sem
autorização, falsidade ideológica, fraude e formação de quadrilha. Em setembro
de 2011, a Justiça Federal negou a Nahas a devolução das obras apreendidas, um
conjunto composto por quatro gravuras de Miró e três quadros de Fukushima
Tikashi, Sergio Milliet e a tela Eternit Bar. Para a Procuradoria Regional da
República (PRR), "o fato de Nahas não conseguir comprovar proveniência de
obras de autores renomados só vem a reforçar os indícios de origem ilícita dos
bens".”
Depois vêm as
contestações. Em outro post, Azevedo
critica a fala de Gilberto Carvalho, de que o Pinheirinho era uma “praça de
guerra”. A veracidade disso está nas imagens. Ele também diz que as hostilidades
começaram quando os próprios moradores se prepararam para o confronto. Agora pensem comigo. Existe um terreno abandonado. Eu não
tenho moradia e me aposso dele para pôr minha família sob um teto. Eu e mais
outras famílias. Habitamos o lugar por oito anos, criamos raízes e o local é
cuidado por nós, como qualquer bairro. De repente há a possibilidade de
despejo. Conhecendo o judiciário e a polícia do país, principalmente de São
Paulo, sempre ágil para atender os ricos e cheia de nhenhenhém para com os mais
pobres, me preparo pro pior. E assim, vou atrás dos meus direitos à moda
antiga. Como ser de outra forma? Mas não! No seu legalismo tacanho e no seu
ódio a qualquer coisa que defenda a justiça social, Reinaldo chega a entrar em
atrito até com a Globo, muito mais branda na cobertura do caso.
Segundo ele, e
continuam as babaquices, a polícia não tem o direito de questionar ordens
judiciais. E mesmo que tenha havido posicionamento de um Tribunal Federal, a
coisa não é válida, pois não existe subordinação. Ele ainda vai dizer, pra
coroar, que a culpa de tudo é, claro, do governo, mais exclusivamente do PT,
por não ter manifestado interesse em momento oportuno, antes da tragédia,
apesar de haver ação do Ministério Público Federal contra a desapropriação.
Como entendo de justiça, mas não entendo os meandros do direito, dou a palavra,
neste item ao presidente da OAB, o insuspeito Ophir Cavalcanti: "O que está
acontecendo em Pinheirinho é muito grave. É desobediência à ordem judicial.
OAB-SP e OAB nacional estão agindo. A vida é o bem maior que o Direito deve
proteger. A luta pelos Direitos Humanos é missão da OAB. Independente de
respeito ou desrespeito às decisões judiciais, é preciso respeitar os milhares
de moradores do local. O governo de São Paulo tem uma boa Procuradoria, que
poderia ter orientado a PM neste caso. É um processo antigo, esperar mais dez
ou 15 dias não teria problema. As pessoas desabrigadas ficaram em completo
abandono, é uma questão de humanidade."
Mas o pior de tudo, por
fim, é ter de aguentar o senhor Azevedo, ou posando de vítima, falando que a
imprensa progressista culpa sempre as mesmas pessoas simplesmente por serem
adversárias políticas (pode uma coisa dessas?), ou querendo se passar como o
único que sempre diz a verdade, sem se ater a pressupostos ideológicos ou
partidários (grande Reinaldo!). Seria cômico se não fosse levado tão a sério. A
verdade é o que ficou depois da invasão: saques, incêndios, destruição de casas
e pessoas desesperadas correndo pra salvar o que sobrou de seu. É a vitória de
uma “justiça” tacanha, classista e, incrivelmente, injusta.
PS.: A melhor análise do tema, na minha opinião, foi feita pelo jornalista Ricardo Boechat. Confira abaixo o vídeo:
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